Leitores ao pé do fogo para ouvir os causos!!

Dos causos a um caso com o Leitor!

Um texto só sobrevive, se arrebanhar um leitor!!!!
Um leitor só existe, se alguém escrever!!!

sábado, 16 de maio de 2009

Não se brinca com quem tem fé

Com pouca fé não se chega a lugar algum! Se você tem fé, este texto é para você ler! Caso contrário nem comece!!! Quem avisa amigo é!!


Era mais ou menos as três da madrugada quando o meu tio chegou montado num burrinho. Fez um barulhão no terreiro e acordou todos que estavam dormindo. Aos poucos o pessoal foi se levantando e se abancando na cozinha. O piso era de chão batido, o fogão era à lenha e ainda havia brasas com algum lume, a chaleira de café ainda se conservara quente. O falatório dentro da casa chamou a atenção das vacas que também já se punham em pé como se advinhassem estar próxima a hora da ordenha. Meu tio já pulou na frente, começou a pegar os apetrechos para tirar o primeiro leite da manhã.

As vacas já o conheciam. Algumas vezes sentiram as suas mãos em suas ubres. Portanto entendiam que ele era da casa. Ele tinha um carinho por elas. Uma até que parecia chamá-lo pelo nome, o berro dela era diferente dos MUUUUS que a gente conhecia. Lembrava bem JOAAAAAAO . Ele dizia isso, e ai de quem o contrariasse, era o chamamento que a vaca criara para ele em agradecimento ao que fizera por ela no passado.

Quando era novilha, foi passar num mataburros e ficou com uma perna presa no vão entre as madeiras e quebrou uma das patas. Na época queriam sacrificá-la, mas ele intercedeu em favor do animal, dizendo, no exato momento, que tinha em mente uma solução para o problema. E não é que teve mesmo! Fez, de madeira, uma pata de peroba, madeira de lei, para a novilha e a partir daí, ela começou a mudar o seu mugido até que o som ficou próximo do seu nome! Segundo ele!!! Porque para os outros, o mugido era normal. Há quem diga que era impressão dele e que até forçava e se esforçava para que as pessoas ouvissem o mesmo som. Até imitava com a boca num biquinho de um bonjour francês para emitir o som produzido pela vaca. Ela ficou conhecida como Peroba!

Ele tinha um carinho especial pelos animais. Acho que quando caiu da mula naquela outra história que lhe contei leitor, deveria ser em função da pressa, ele não pôde abordar a mula da forma costumeira como fazia com os outros animais. Ele era por demais atencioso com os animais. Com as vacas ele conversava como gente grande , contava histórias enquanto as ordenhava, em algumas histórias elas ficavam quietas, como quem estivesse ouvindo coisas sérias, já em outras ficavam inquietas como quem duvidassem da veracidade das baboseiras dele. Numa dessas situações, meu pai ouviu a seguinte história e eu confirmei com o meu tio tempos depois:

Numa ocasião, ele foi no sítio do Brasílio ver um burrinho para comprar e achou o Três Peidos lá. Sabe aquele burrinho em que foi naquele baile que lhe contei? Pois é ele mesmo, é dele que estamos falando!! Então negociou o animal ensiado, com todos os apetrechos da montaria e levou para sua casa. Na verdade ele o comprou para carregar alguns baláios de milho que tinha plantado numa ribanceira. Comentava ele, que o burro por ter os cascos pequenos, e meio fechados, conseguiria se firmar em terreno pendido. Ele possuia um cavalo, mas achou que um burro teria mais segurança e mais rendimento. Assim fez. Colheu o milho e não gostou da trabalheira que deu na colheita, quando findou a labuta, o burro já não tinha mais serventia, vendeu o animal para o meu avô.

Caro leitor, acomode-se na sua cadeira que vou contar a história, a mesma que na época o João Carcule contou a novilha!

O burro que naquele época não era chamado de Três peidos! Veio com outro nome, chamava-se Quatro Paus era uma referência ao jogo de truco, cuja a manilha é a mais valorosa entre as outras. O animal era propriedade de um dos jogadores do bairro, muito famoso pelas cachaça que tomava e pelos tombos que levava. O quadrúpede ficou com esse nome até meu tio compra-lo. Meu tio não jogava truco e até chava que esse jogo tinha parte com o demo, porque quem joga truco esquece da mulher, apega-se ao jogo e não tem hora pra ir-se embora e este comportamento acaba provocando uma briga no casal e até estragando a felicidade conjugal. Com esse pensamento trocou o nome para Três Peidos em função dos três puns que deu quando o meu tio se acomodou sobre o animal pela primeira vez. Na época o burro estava judiado apresentava-se numa magresa de fome mesmo, pois o coitado amanhecia amarrado no palanque sem comer várias horas esperando o jogador, às vezes ficava a noite toda, porque o desgraçado do jogador dormia de bêbado e o coitado amanhecia amarrado até o embriagado acordar. Veja bem, onde ele foi buscar o nome! Só podia ser o meu tio.

Foi a caça com o burrinho! Pegou os apetrechos, que se listados, eram um facão para cortar gravetos e cordonél, hoje conhecido por barbante. Também levou uma corda de uns 5 metros, se por acaso caçasse bastante, amarraria os marrecos dependurados no arreio do burrinho!! Não levou espingarda, porque não gostava de ver morte sem função, principalmente de animais. Já era a favor da natureza muito antes de chegar essa onda de proteção à natureza. Bem, seguiu o caminho na mata. Sua intenção era pegar mais ou menos uns cinco marrecos para fazer um assado na casa de um compadre. Era aniversário do seu afilhado. A condução era o Três Peidos como você meu leitor já sabe!!

Não pretendia ir muito longe, caminhava por ali pelas redondezas para perto de um banhado. Um lugar bem úmido e com algumas lagoas. Muito conhecido pelo nome de Lageado. Passou perto do cemitério. Desmontou-se, fez algumas orações para os falecidos e seguiu no balanço do jegue. Não demorou muito chegou. Desceu, arranjou uma árvore para se instalar, amarrou o burro à soga com a corda e montou o seu ateliê de fazedor de arapuca, a famigerada arma contra os marrecos. Cortou alguns gravetos e foi amarrando os pauzinhos cada um menor que o outro, de forma que ao final ficasse com uma forma próxima de uma pirâmide. Fez cinco e as armou e locais estratégicos. Calculava ele que ficaria o dia inteiro para essa empreitada.

Apenas não contava com a mão divina que providenciou uma nuvem de marreco vindo do sul em busca de ar mais quente e foi ali, naquele lugar, que desceram para descansar, comer e matar a sede. E nem esperavam que iriam encontrar com o meu tio munido para caçá-los ali no local!

Armou a primeira distante do seu paradeiro uns cinquenta metro. Limpou o chão, pegou alguns milhos que levava como chamariz a armou a arapuca e assim fez com as restantes num raio de cinquenta metros e fechou em círculo de maneira que tivesse a visão de todas lá do lugar onde estava acampado. Limpou o caminho para observa-las e esperou. A bando de aves foi se abancando em volta das lagoas, tomavam água e saíam andando em grupo bicando pelo chão a procura de comidas. Não demoraram muito e já acharam um trilha de milho, obviamente colocados pelo meu tio, cuja chegada findava-se na arapuca. E ele só urubusservando! Gostou do termo leitor?

A fome delas eram tanta que entravam dentro da arapuca em plurais, 3, 4, e até em 5. O meu tio ficou abismado, nunca vira aquilo em sua vida. Era armar e já ter o trabalho de retirar as aves, armá-la de novo e correr para outra, pegar as aves e mais outra e outras que quando foi no final da tarde teve que parar de caçar, porque não aquentava mais de cansado de tanto retirar as presa e armar a arapuca. Resolveu encerrar a caçada. Não é para menos. Sabe leitor, é de admirar que um homem com a cabeça de protetor da natureza caçasse tantas marrecas, se precisava só de cinco. A princípio não entendi! Mas Deus é pai e ele sabe o que está fazendo! Certo?

Eu sei leitor, que você deve estar curiosos para saber como ele se virou para armazenar as marrecas depois de tira-las das arapucas. Vou satisfazê-lo nesta explanação. Ao retirar da arapuca, ele ia até a sua árvore, amarrava com palha de milho as pernas da ave e a enroscava no arreio do burro, para quem não sabe arreio é aquele apetrecho que se usa para montar no cavalo. Porém a cada ave que amarrava, sentia que o espaço em volta do arreio não dava. Que fez então? Pegou a corda, passou pelas duas argolas do arreio e passou-a por entre as pernas das aves de forma que elas não pudessem escapar, a não ser que arrastasse o burro. Algumas até tentaram voar, mas perceberam estar presa ou até por canseira pararam docilmente e esperaram o defecho daquela situação. Olha para encurtar a história e para que eu vá dormir, pois já passam da meia noite e eu olha aqui! Só estou escrevendo esta história por respeito a você leitor!

Ele caçou naquele dia exatamente 529 marrecas. Acredite se quiser, eu nem tenho como apresenta-lo a você, porque meu tio já é falecido, mas fique tranquilo, porque o que vem agora dará para você imaginar que só mesmo uma quantidade assim, poderia dar no que deu!

O burrinho três Peidos vinha até arcado com tantas aves dependuradas no arreio junto ao seu corpo. Segundo o meu tio, cada ave devia pesar mais ou menos 1.300 gramas. Descontando as penas o total daria mais menos uns 600 quilos. O meu tio, para não judiar do animal, veio na frente à pé puxando o burrinho. Eu não contei a você, mas para chegar nas lagoas ele tinha que passar uma restiga ( mata fechada, quase mata virgem) do João Baláio. E foi lá que se deu o caso mais interessante da caçada!

Caminhava ele tranquilo pela mata! Eis que na sua frente pareceu uma sussuarana atraída pelos marrecos quando da chegada à lagoa! O medo instalou-se na comitiva! O burro até piscava duro como tivesse vendo a sua alma ir para o céu. Já pensava até numa desculpa para São Pedro, jogaria a culpa do crime contra a natureza nas costas do meu tio. Os marrecos com os olhos esbugalhados naquele momento. A incerteza do final agora tornara-se certeza, nos olhos do felino o aviso: o caso daria em morte. Meu tio então já pediu ajuda a todos os santos que estivessem de plantão naquele momento. Começou a rezar para todos eles. Lá no céu houve até um engarafamento de santos na porta para atendê-lo, até aqueles falecidos do cemitério no qual ele rezara para as almas, já falavam em ressuscitamento para socorrê-lo, havia um alvoroço no campo santo. Mas só se percebeu a Providência Divina, quando já estavam perto de ver a morte, e meu tio já totalmente perdido com os nomes dos santos. Aí que veio o improvável.

Quando ele disse textualmente "Ah! Meu Santos Dumont me ajuda!!" Foi que as aves começaram a bater as asas, uma iniciou a bater desengonçadamente, a outra assustou-se com o barulho e a partir daí começou aumentar o número de asas batendo, que num espaço de segundo, todas estavam batendo as asas e então o incrível aconteceu. As aves estavam levantando o burro no ar!!

Leitor quero deixar claro, que foi o meu tio que contou, eu apenas sou o seu representante nesse momento. Em caso de dúvida da sua veracidade terá que consultá-lo no cemitério. Mas eu acho que não vai precisar disso, porque, segundo ele, 529 marrecos teria condições de carregar durante o vôo 250 quilos! O peso dele mais o do burro juntos não chegavam a 200 quilos. Está mais do que provado de que é possível esta façanha!!

Bem leitor, Deixemos os cálculos de velocidade e peso para os professores de matemática e de física e vamos nós na história. Já está tarde e já estamos cansados e com sono! Não é verdade? O burro foi sendo levantado pelas aves. A Sussuarana quando viu a cena, fez cara de não entender! Parou como se estivesse vendo uma magia. Meu tio então aproveitou esse momento e se atirou no lombo do burro. Não me pergunte como ele conseguiu montar no meio daquelas aves voando. Mas o medo faz coisa que a gente nem acredita! Ele fez e depois viu a onça se afastando dele. Não porque ela estivesse com medo, é que ele estava subindo e alem disso montado no burro como um balão sobe nas festas juninas!

Na época, quando escutei a história eu não acreditei. Fiz até, posteriormente, alguns questionamentos pertinente ao credito! Ele disse com a maior naturalidade: "O medo faz coisas que não existem, existirem ! Acredite nisso!" E eu acreditei! e estou contando a você leitor!

Ele seguiu viagem agora montado em cima do burro e voando no céu pela obra das marrecas. Passado o medo da onça, passou a gostar do passeio e de admirar a paisagem, a beleza dos campos, ele nunca tinha andando de avião, para ele avião era uma coisa de outro mundo, só ouvira falar de avião pela bocas dos outros mais experiente e só na época da guerra . Porém não demorou muito para substituiur esse estado letárgico da alma por um outro. O da preocupação: Como descer e ainda com segurança? Ele via a sua terra natal se distanciando cada vez mais. O burro já nem respirava, o coitado procurava andar no céu, entretanto não encontrava o chão . Desesperado, continuava a sua caminhada persistindo em encontrar o chão sob seus pés. Meu tio também contaminado pelo burro era o corpo inteiro preocupação. Até que meu tio arrumou uma solução. Vislumbrou uma esperança. Resistiu em tomar aquela decisão, porque envolvia a morte das aves e ele não gostava de matança a não ser por necessidade. Eu diria que o termo necessidade caberia apenas para alimentação. Mas naquele momento já era de vida ou morte. Ou para eles ou para elas. Aproveitou a diferença entre o humano e os animais e partiu para ação! Pediu perdão ao Deus do céu pelo avecídio a ser cometido e pôs em prática o seu plano.

Puxou uma marreca, pegou com uma das mãos nos pés e a outra no pescoço da coitada e Screch!!! Destrontou o pescocinho dela. Sentiu então que a ausência de uma ave batendo as asas fez com que descesse um pouco das alturas, aí não teve outra saída. Foi destroncando os pescoços das outras e aos poucos foi baixando cada vez mais, que no resumo da história, quando destroncou a última, já estava em terra firme. E advinha onde ele foi pousar: No centro da cidade de Ribeirão Grande.

Ele fez o caminho de volta sem perceber. No desespero matou mais da metade do lado direito e as aves fizeram uma curva, ele nem percebeu a mudança de rumo. Fez a viagem de volta e caiu bem no centro da sua cidade. Segundo ele, se quisessem perguntar, ainda havia um sobrevivente daquela nação de gente que viu a cena. Nem liguei para esse comentário, eu acreditei naquele de que o medo é responsável por qualquer criação do homem

Para encerrar o assunto, as marreca já estavam morta mesmo, então ele as vendeu ao equivalente hoje a três reais cada uma para o pessoal que viram ele descer do céu. Pois não é que ele fez ainda um bom dinheiro nessa caçada. Comprou uns bezerros depois levou para comer na casa do seu afilhado! Há quem diga até que se não fosse o Santos Dumont ter inventado o avião, ele teria morrido nas garras da sussuarana!!

Leitor, agora me deu sono de verdade e eu tenho que trabalhar de manhanzinha!! Obrigado pela atenção, desculpe o meu cansaço e boa noite! Até o próximo causo!! Abraços!!!

(Santiago Derin)

6 comentários:

  1. Olá, Ademar! Li seu comentário no Na Asa do Vento. Visitei os seus blogs e gostei do que li.
    Vou visitar esses espaços com regularidade.
    Grande Abraço.

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  2. Olá, Ademar!

    Li seu comentário no "Na Asa do Vento" e resolvi visitar os seus blogs. Gostei do que li. Parabéns. Vou voltar mais vezes.

    Abraços,
    Carlos

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  3. OI Ademar, voce continua incrível. Êta imaginação fértil" Gostei muito. Bjos Tarma

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  4. OLÁ MEU CARO...ESTOU AQUI RETRIBUINDO SUA VISITA AO MEU BLOG.
    PARABENS PELA SUA HABILIDADE COM AS PALAVRAS.
    UM GRANDE ABRAÇO.

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  5. Ola Ademar! vim agradecer a visita lá no meu canto e dizer que só o nome do Blog ja me cativou, vou para te ler com calma e vou te seguindo por ai...um abraço grande! e lembre-se, minha casa é sua casa, venha quando puder!

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Obrigado pelas visita!!!