Leitores ao pé do fogo para ouvir os causos!!

Dos causos a um caso com o Leitor!

Um texto só sobrevive, se arrebanhar um leitor!!!!
Um leitor só existe, se alguém escrever!!!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Acordo com o Divino!!

Se você come feijão, então esta história é para você!!

Sabe, criar filho não é fácil não! Quem não concordar com isso, acho que só o pôs no mundo! Criar é muito diferente. Criar é se apoquentar pelo e com o rebento! Tem muito a ver com o dinheiro, é como moeda, sabemos que há os seus dois lados. Filho, também, é a mesma coisa, de um lado é uma alegria e do outro uma dor de cabeça que não tem tamanho!! Um dia ouvi uma história do meu tio João Carcule que clareou bem a minha cabeça sobre essa questão. Essa narrativa não trouxe solução, mas deu mais paciência e aceitação!

Era mais ou menos uma hora da tarde, o meu tio tinha acabado de malhar o feijão no terreiro e já estava peneirando para ensaca-los. Um serviço muito duro. Para quem não sabe, vou dar uma pequena noção do que é isso! Depois de ser arrancado com as mãos o pé de feijão seco na roça. Tem de se colocar esparramados os pés de feijão todo o dia num terreiro grande para secar a bainha no sol. Só depois dela começar a estourar de tão seca e liberar o feijão é que está pronto para ser malhado. Malhar é uma surra, com uma vara fina de mais ou menos uns dois metros, no pé do feijão que tem por objetivo liberar o grão de feijão seco da sua casca através dessas batidas.

Mas nós da cidade nem temos de se preocupar se o feijão leva surra ou não. Nós já compramos depois da surra! Para nós a surra fica para o nosso lombo quando vendemos barata a nossa mão de obra, para se ter o dinheiro e compra-lo ou de vez em quando ao depararmos com ele já ensacado nas cestas básicas entregue pela empresas aos seus funcionários. Esta prosa do feijão já ocupou tantas palavras que já está virando quase feijão cozido na panela de pressão. E não é essa a razão da nossa conversa. O leitor já deve até estar pensando em largar este texto para procurar outro para ler. Sabe leitor o feijão está na história, porque ele cria de tudo. Desde gente ruim até os bons e vai desde o não, até aos mais criativos!

O sol batia forte na parede e o beiral da venda proporcionava uma sombra rente a parede. Deixamos o feijão e fomos na venda. Ali, com mais alguns caboclo, descansávamos e a prosear ficamos. Segundo o Belarmino, um boia fria do lugar, quando a sombra tivesse sobre o toco de uma árvore bem na frente do bar seria por volta das três horas. Eu e meu tio tínhamos acabado de chegar, meu tio queria tirar o pó da garganta com uma cachaça. Não havia relógio para conferir, então para nós que tanto faz a hora, o que importa era a conversa, o Belarmino que fique com a sombra das três, o seu toco e o seu cigarro de palha que vamos nós na história!

O meu tio ouvia um senhor que estava reclamando da preguiça do filho, que não quis ir na horta buscar alguns pés de alface para o almoço. A esposa foi a horta e trouxe três pés de alface e fez a salada. Reclamava ele que quando a mulher foi chamar o marido e os outros para comer, viu a mesa com a travessa de salada já totalmente vazia. O menino, de uns doze anos, havia comido tudo! Chamado a atenção do moleque. Nem ouviu direito e se ouvisse daria de ombro. Este senhor foi na horta e pegou outros pés, se quisesse comer uma salada! Meu tio para acalma-lo contou uma história interessante.

Dizia que não lembrava quem havia lhe contado e que iria reconta-la, mesmo sem lembrar-se de alguns pedaços. Ele faria questão de inventar as entrelinhas para alinhavar a história toda, porque valia a pena aproveitar para entender o ser humano!!

Começou ele dizendo que Deus quando fez o mundo, criou o homem e deu todo esse corpo e a mente que nós temos e deu o nome de Ser Humano e mandou esse indivíduo sentar-se numa poltrona e observar as prosas que se seguiriam! Em seguida criou um cachorro e diante do fulano ali sentado disse para o animal que ele estava diante do homem e que este seria a partir daquele momento o seu proprietário. Teria plenos poderes sobre ele e que se quisesse viver teria de ser submisso, aguentar o desprezo, aguentar as surra, ficar amarrado muitas vezes e que até fome passaria e para essa mordomia de vida ganharia 40 anos de existência, sempre vivida em função de atender esse ser humano! O cachorro olhou bem para cara desse indivíduo e disse que não aguentaria suportar essa vida por quarenta anos, preferiria apenas a metade dessa quantia. Deus então concordou com a explicação e lhe deu apenas vinte anos para viver nas condições propostas.

Em seguida criou o burro, apresentou-o ao homem e fez ao animal a mesma proposta feita ao cachorro e adicionou que, alem de tudo, teria de leva-lo nas costas e até puxar uma carroça a custa de lambadas de chicote. O burro olhou para o homem, prestou bem a atenção nele, não achou muito confiável, não gostou do que viu e pediu uma redução de 50 por cento. Deus concordou com os argumentos e ordenou que vivesse todo esse martírio por vinte anos. Em seguida criou o macaco e fez a mesma proposta feita ao cachorro e ainda deveria ser o bobo da corte do homem, deveria fazer graças pulando de galho em galho e até mesmo no chão para divertir seu amo e senhor! O macaco olhou para o homem e concluiu que não faria isso por quarente anos , mas que por vinte ele arriscaria encarar esta, que não seria uma vida, mas uma batalha. Deus concordou e lhe deu essa incumbência por vinte anos.

Em seguida chamou o homem e lhe disse que uma vez que teria toda essa mordomia, ele viveria vinte anos, a mesma quantidade dada aos outros! O homem ficou indignado, com a falta de justiça divina. Ele ouvira toda a conversa e que a todos foi oferecido 40 anos e por que agora ele deveria receber só vinte? Deus não aceitou a argumentação e sustentou que ele permaneceria vivendo os vinte anos mesmo! Então o homem propôs outra alternativa: ele ficaria com as quantidades dispensadas pelo animais e que pegaria os vinte do cachorro, os do burro e os do macaco e que Deus não sairia no prejuízo, porque os 60 anos foram dispensados pelos demais. Estaria, ainda, fazendo justiça dando esta sobrevida ao ser humano e que como tal aproveitaria muito bem uma vez que era dotado de inteligência!! Deus achou justa a proposta e falou que só daria, se ele vivesse esse período exercendo as funções programada para cada um. O homem topou e ficaria assim computada: primeiro viveria a vida do homem, depois a do burro em seguida a do cachorro e por fim a do macaco.

Seu Belarmino estava com uma atenção grande na história, que nem percebeu o cigarro de palha apagado, chupava para sugar a fumaça e não percebia que já era sem fogo. E o meu tio continuou:

- É por isso que até chegar os vinte anos, eles não quer fazer nada, não assume nada, não são responsáve por nada e só quer sossego!!

Todos concordaram com a explicação e saiu conversa de todo os tipos e exemplos de adolescentes com os mais variados comportamentos. E meu tio seguiu o rumo da prosa com a argumentação, dizia ele que depois dos vinte anos , terminada a vida do ser humano começaria a vida do burro. Na prática o indivíduo começa a trabalhar e estudar e até chega a achar que o dia tem menos horas do que deveria, e chega a conclusão que só 24 é pouco. Tem trabalhar, ir a escola, fazer hora extras, atender aos filhos e todo o circunstancial da vida e a noite está num bagaço, porém chega o final de semana ainda tem de participar do social.

Meu tio tomou um gole da cachaça, trazida pelo dono da venda e continuou a prosa. Relatava ele que depois dos quarenta começa a vida do cachorro, a pessoa já não aguenta a fazer do burro e para ajudar na carga e simultaneamente começa a outra vida: a do cachorro. Aí então o indivíduo não tem mais ânimo para sair de casa. A família programa uma saída e ele diz que vai ficar olhando a casa, assemelha a um cachorro. Busca no cuidar do patrimônio um motivo para ficar em casa, há muito roubos em residência! Esta fase é predominada pelo desânimo e fica uma pessoa caseira, quase não sai de casa, só mesmo por decreto governamental.

A última fase vem misturada do macaco com a do cachorro. Quando o filho vai fazer um passeio com a nora e não tem com quem deixar o neto, lá vai o avô e a avó a assumir o compromisso: olhar a criança. Quando o neto percebe a ausência do pai e arma um berreiro, lá vão os avós fazer graça, caretas, brincadeiras sem graça e até rolar no chão, se for o caso, para o choro parar e entreter o menino e por aí vai. E assim encerra o ciclo destas 4 vidas assumidas pelo homem perante o criador. O meu tio João Carcule terminou a história com esta frase:

- O seu filho - Falou para esse senhor - está na fase do homem e você não pode reclamar, você está na fase do burro e do cachorro, não importa se tem latido ou se o burro manca! Tem mais é que trabalhá mesmo!!!!

Dito isso eu e ele viramos a esquina e fomos terminar o trabalho, peneirar e de ensacar o feijão malhado no terreiro. E com este ato, apenas, fomos dar sequência a nossa sina!!!
(Santiago Derin)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Eu não matei a minha mãe!


Leitor estou de volta depois de algumas férias por conta, deu um tic de poeta em mim nesses dias e produzi um monte de sonetos, deles alguns bons e outros muito ruins, no meu modesto gosto. Pensei um pouco e postei todos. O leitor que separe os ruins dos bons ou vice-versa e se não gostar jogue todos no lixo da internet já que nela se tem de tudo - Se você quer ver os meus desvarios, vai ao ramedaol.blogspot.com e confira os meus devaneios poéticos! Afinal o poeta vive dos elogios e sobrevive das críticas, não importa se esta é a ordem. O importante é que falem das poesias. Elas são minhas filhas e as coloquei no mundo para viverem sem mim, nesse mundão de meu Deus. Afinal, os filhos a gente põe no mundo, não para nós, mas para o mundo e existem os filhos feios e os bonitos. Só escapam desta regra somente os filhos da D. Coruja, o restante segue a baciada!!!

Uma amiga mandou-me um e-mail com uma história sobre a relação entre os filhos e as mães muito interessante, desconhece-se a autoria segundo o texto. Eu fico triste quando vejo a ausência do autor, normalmente se faz com muito carinho e não saber o nome do autor , fica como o ditado das crianças " de repente do nada" apareceu uma história! A gente que escreve, sabe que não é do nada. Vem com muito sofrimento na hora da criação, há muito pensar para criar, há muito sentir! Então eu resolvi colocar na boca do meu tio João Carcule para ver o que ele faria com esta história. Ele me surpreendeu devolvendo de imediato desta forma:

João Carcule tinha viajado a cavalo para o Capão da Véia, lá pelos lados de Ribeirão Grande , logo ali perto de Capão Bonito no Vale da Ribeira. Ele tinha ido para passar uns dias no sertão para ser padrinho de casamento do seu quase sobrinho Pimentão. Digo quase, porque ele é filho do cunhado com outra, a segunda mulher. A primeira, era imã do meu tio, havia morrido e ele, então, casou com outra para completar a caminhada da peregrinação provocada pela serpente lá longe, no tempo do paraíso! No seguir do rumo, estavam todos à noite, à beira do fogo proseando conversa de família e num determinado momento, Pimentão falou da sua mãe, da saudade que tinha dela e que a queria naquele momento importante, o do seu casamento!

João Carcule pensou um pouco e passou a mão na testa e soltou que os filhos só reconhecem a importância das mães quando estão ausente, eu não concordo muito com ele, mas se ele falou é porque ele tem experiência disso. Seguiu ele comentando quando era criança ele foi a escola e chorou, porque a mãe não entrou com ele na aula. Mas quando saiu, ela estava lá de braços abertos no portão. Numa outra ocasião ele foi para escola e antes de entrar, mandou a mãe ir embora disse que sabia voltar sozinho. Ela falou:

- Olha que vou mesmo!
De pronto ele, bem seguro de si, disse:
-Pode ir!! Eu já sou grande! Melhor ainda, matei você, pra nunca mais vir me buscar!

Naquele tempo, ele era criança mesmo e tinha perto de 10 anos e já havia se engraçado com uma colega de classe. A garota havia dito em uma determinada situação, que ele deveria sair da barra da saia da mãe! E por esta razão que saiu esta fala! Meu tio falava com lágrimas nos olhos, o caso era sério, e os demais, a beira do fogo, nem piscavam, estavam condoído com o que viam e ouviam! Uma das crianças que ouviam perguntou:

- Você matou a sua mãe?
- Matei mesmo!

A criança só entendeu depois quando ele comentou que quando deu o sinal, a mãe estava lá como em todos os dias esperando o filho amado! E seguia ele com a conversa. Numa outra ocasião ,ele foi numa festa e estava com uma rapaziada e numa conversa animada. A mãe foi e o chamou para ir embora com ela. Ele de novo falou:

- Mãe largue do meu pé, eu já sou grande!
- Vamo imbora filho, tá na hora, eu vou e largo você aí!
- Mãe matei você! Pode ir, eu sei me virar!

E os colegas acharam uma atitude, não muito comum e um deles falou:

-Isso não se fala para mãe da gente!

Ele de pronto respondeu:

- Eu tenho que sair da barra da saia dela, por isso eu matei e mato todas as vezes que quiser! Eu não quero a minha mãe me enchendo o saco!!

Os olhos dos ouvintes, a beira do fogo, bebiam as palavra e ouviam pelo corpo todo, simbolizados nos arrepios dos pelos dos braços. Mas nem piscavam! Acharam interessante a morte da mãe duas vezes. Ouve uma parada para algumas reflexões. Surgiram várias opiniões. Uma era de que o tio foi mal educado com a mãe e que a coitada não merecia isso e , também, que deveria ser castigado. Um outro falou que ele tinha envergonhado a família perante as outras pessoas, falando daquele modo com a mãe! Um outro já disse que mãe enche o saco mesmo, tem hora que a gente quer matá-la para parar de buzinar no ouvido do filho!

O meu tio só escutava e se preparava para completar o assunto. Achou interessante as opiniões, que deixou até que se esgotassem todas as falações! Chegou um momento em que ele puxou a narrativa para o seu comando e continuou com a fábula. E disse que sem a mãe para encher o saco na festa, ele resolveu tomar vinho com os amigos e tomou um, dois , três, quatro copos foi aí que ele contou e que após o quarto corpo a matemática confundiu a sua cabeça, que não soube o total da soma, mas sabia que bebeu bastante pelo estado que ficou! Tanto que, na hora de ir embora, os colegas que o levaram para casa. E foi carregado, pois não aguentava parar em pé! Uma senhora vizinha, que ouvia também a conversa ali ao pé do fogo, perguntou para ele:

- Tudo isso é verdade?

Ele de pronto disse:

-Por Deus do céu que está entre nós!

A senhora abanou a cabeça para os lados como reprova. Este sintoma, o meu tio sentiu até nos olhos dela. Na cabeça dele passou até que a história dele estava mais para mau exemplo do que para bom exemplo! Ele desligou-se dos olhos da vizinha e emendou o restante da cena. Disse que ao chegar em casa, foi o pai quem o recebeu e pediu para alguém que o colocasse na cama e que no dia seguinte ia acertar essa matemática do vinho! Esse cálculo errado teria de ser revisto e depois dos noves fora, teria de dar zero! E seria corrigido a conta com o cinto e do lado da fivela!

De madrugada quando o meu tio acordou, ainda bêbado, pediu por água! E quem estava lá leitor com um copo de água? Ela. A mãe que ele tinha matado na festa. Várias vezes ela levou água para o filho. De manhã quando acordou, já refeito da bebida, sentiu a cabeça um pouco dolorida. E parecia que havia uma banda tocando bumbo e ainda para ajudar era sem parar dentro da sua cabeça. Mas isso não o impediu de ouvir o pai falando para mãe:

- Joãozinho vai ver com com quantas cintadas se cura uma ressaca!

Tremeu, ficou com medo de levantar! Os olhos das pessoas, em volta do fogo, delirava de alegria, porque o herói seria repreendido, iam coloca-lo no seu próprio lugar! As crianças ficaram com dó do Joãozinho, bom nem todas! Algumas queria ver a surra no moleque. As opiniões variavam entre uma conversa bem boa do pai até o limite da dor da surra. Outras achavam que ele já tinha passado das medidas e merecia algumas cintadas. E há os mais velhos que achavam que tinha de ser uma sova de marcar para o resto da vida! Os olhos do meu tio brilhava ao ver as pessoas falando sobre o caso, e, com muita criatividade, preparava o restante. Ele disse que chamou a mãe e pediu socorro para ela, clamou para que o livrasse da surra! Esta fala provocou um burburinho muito grande nos presentes! Queriam a mãe fora do caso. Falavam do que ele fez com a mãe e para mãe. A opinião era unânime: não deveria ajudá-lo! Ele tinha que pagar pelo erro cometido!

Ele reiniciou a história, defendendo o amor de mãe. A mãe, dizia ele, tem que estar em toda hora com o filho e foi o que ele disse, a sua mãe à beira da cama, tremendo de medo da surra prometida pelo pai. Sabe leitor que a mãe assumiu o erro de tê-lo largado lá!! Segundo o raciocínio dela, deveria tê-lo trazido mesmo que a força, ele era apenas um menino e não sabia o que estava fazendo, bebeu pela inexperiência de ser um garoto. Em resumo as cintadas que eram para ele foram para a mãe! Ela apanhou de cinto por não ter trazido o filho para casa naquele dia!

As caras das pessoa era de revolta. Onde já se viu uma mãe assumir um erro só para apanhar no lugar do filho? O meu tio ficou escutando as contestações e esperou, com a calma que lhe é peculiar, pediu licença para continuar quando a mesma mulher disse:

- Tudo isso é verdade?
- Por Deus do céu que está entre nós!!

Continuou a história. Logo quando ele casou, sempre ia na casa da mãe, moravam num sítio ali perto, quase todo os dias quando não ia com a mulher, ele passava sozinho na casa dela! Um dia a sua mulher estava de ovo virado, parou de ir na casa da sogra e também o proibiu de ir sozinho. A mãe sentiu a falta do filho e passou a visitá-lo. Um dia a mulher estava de ovo virado novamente, disse para ele textualmente:

- Você precisa sair da barra da saia da sua mãe!

Ele respondeu:

- Eu não indo lá, é ela que vem aqui!

A mulher olhou com autoridade e retrucou:

- Fale para ela não vir!

Ele pensou e confirmou:

- É acho que vou ter que matar ela de novo!

Com um sorriso nos lábios a esposa completou:

- Acho bom! Não quero sogra metendo a falação na nossa vida de casado!

Um dia a mãe foi visitá-lo e ele disse um monte de coisas para ela, que ela estava atrapalhando a vida dele e tal e coisa e depois finalizou:

- Não venha mais na minha casa!

A mãe olhou para os dois e devolveu:

- Olha que eu não venho mais!

Ele olhou bem firme para ela e sentenciou:

- Por mim,... Eu já matei você!

Os entreolhares foi inevitável e sob todos os olhares inconformados dos presentes, ao redor do fogo, com o andar da história, não abriram a boca, muito embora se percebesse ao contrário! Queriam opinar, mas engoliram as palavras, Mas não o interromperam, aguardaram contrariados o desfecho! Meu tio parou! Pediu um copinho de pinga envelhecida no corote de canela, que o sobrinho guardava para tomar antes do almoço para abrir o apetite. Ele, o meu tio , já estava com os olhos marejados de lágrimas. A senhora vizinha soltou:

- Se a mãe tivesse levado imbora da festa, ele não bebia pinga hoje!

A pinga veio. Ele virou bem devagar como se estivesse pensando e ao mesmo tempo sofrendo com as revelações daquele momento. Pegou um graveto do fogo começou a revirar as brasas como se quisesse ver, naquela luz, a imagem da sua mãe! Olhou para os demais e falou:

- Eu matei minha mãe, um monte de veis quando eu era criança e ela não morria, depois quando rapazinho também matei ela um monte de veis e ela não morreu, depois de casado eu matei também um porção de veis e ela não morreu!

Ele começou a chorar e todos ficaram embasbacado com o desfecho da história! O Contador chorava que nem criança. Os olhares era de indecisão, não sabiam se pediam ou não para continuar a história. A emoção e o choro era grande e já tinham contaminado todos os presentes. Ele se refez e encerrou com este desfecho. Assumira que matou a sua mãe todas as vezes que pode e ela sempre ressuscitava e estava com ele nas horas que mais precisasse e aprendeu que as mães morrem quando querem, não adianta fazer como todo mundo: querer matá-la. Hoje reclamava ele que não tinha mãe, Sob lágrimas torrenciais disse aos demais que a mãe havia morrido e não ressuscitava mais. A saudade dela era muito grande!!! Ficou ali sentado imóvel com o tronco do corpo só o braço direito mexia com as mãos através da vareta as brasas como se procurasse nas fagulhas a imagem de sua mãe. Ficou algum tempo calado. O silêncio era geral! Foi quando olhou para todos , ainda com a respiração entrecortada e com a face ainda escorrendo lágrimas abriu a boca e dela saiu estas palavras:

- Acabou-se a história! Hoje é dia de finados, é dia dos morto! Eu vou dormir para sonhar com a minha mãe. É só no sonho que ela ressuscita! Boa noite!!
(Santiago Derin)








sábado, 17 de outubro de 2009

Eventos!!!!

ESPAÇO SABINA CULTURAL
Programação
21 de out – quarta – 19h30 :“Prosa, Poesia e Música - Processo de criação.”
Prof. Ademar Oliveira de Lima
Especializado em Literatura e músico
Prof. Maurício Sérgio Dias
Mestre em História e músico

28 de out - quarta – 19h30: “De médico e louco todo mundo tem um pouco”
Reflexões sobre a saúde mental na contemporaneidade
Prof. Wilson Klain
Psicanalista, professor universitário, pós-graduado (PUC-SP) e editor do site Psicologia no Cotidiano

04 de nov – quarta – 19h30: “Escolhas que eu faço”
Dra. Neide Abreu
Médica pediatra, terapeuta de família e casal

domingo, 2 de agosto de 2009

O bode e a cabra!

Para os Cabras que gostam de leitura!!!!


Leitor! Estou de volta depois de um grande repouso e algumas boas doses de mesinhas caseiras contra gripe braba! Com gripe ou sem gripe o mundo gira e as coisas não param de acontecer, portanto, sem mais delongas, vamos por os pés na estrada que atrás vem gente. Se morreu alguém, bota feijão no fogo que tem gente viva e precisa comer e a razão é simples: só porque estamos vivos!

Um dia o meu tio João Carcule foi a roça e achou uma cabra pastando! Percebeu que estava de ubre cheia! Procurou alguns filhotes em derredor, mas não os encontrou. Levou a cabra para a casa, tratou dela, esvaziou as tetas, isto é tirou o leite, depois da ordenha percebeu o animal bem mais aliviado. É o excesso de leite não é bom tanto para o bebedor como para o produtor. A esposa ferveu o leite e deu um pouco ao menino. A princípio não gostou muito. Pela cara achou muito forte, mas a comodidade foi facilitando que não demorou muito já se assumiu como enteado da cabra. Quando estava com fome, procurava o animal e se saciava com o líquido da vida diretamente da teta. Na cidade diriam: Do produtor ao consumidor.

Joãozinho vinha de uma fraqueza e o leite de cabra o fortaleceu tanto que a cabra já fora nomeada por ele como mantenedora da saúde da família e principalmente dele e, para si, já era considerada um ente familiar.

João Carcule era tão religioso e em razão disso construiu uma capela no terreiro do sítio, para gradecer a Deus pela providência. Fez muita propaganda e convidou o arraial para trabalhar na obra da capelinha. Num zastrás a construção já estava em pé e uma semana depois já estava recebendo os fiéis e os infiéis no mesmo espaço. A idéia primeira era cumprir uma promessa feita ao Bom Jesus dos Aflitos. Quando da doença do menino, a minha Tia fez uma promessa de montar um presépio como agradecimento pela graça alcançada. No momento da promessa, ela disse que o presépio seria ao vivo, entretanto naquele momento a minha tia nem sonhava que a cabra faria parte do pacote de intenções.

Graça recebida! Presépio construído e ponto final. Com essas coisas não tem delongas, tem que cumprir! Saíram pedindo coisas e objetos para a montagem! Emprestou, ganhou, comprou a maiorias dos apetrechos para o feito. O vigário foi convidado, mas não pode ir e mandou o meu avô (capelão do bairro) para representá-lo na hora da benção.

A imagem do presépio ficou bonita e provocava emoção nas pessoas, era como se o expectador realmente estivessem no dia de nascimento do menino Deus! Veio bastante gente para ver, era uma novidade o presépio ao vivo. Uma moça havia se prontificado em ser N. Senhora, um outro rapaz se prontificou em ser São José e uma outra emprestou, com emoção e lágrimas nos olhos, o seu filho para representar o Menino Jesus. Meu Tio João pegou a sua vaca Bartira rescem adquirida, o cavalo Martírio, um tordio com algumas manchas pretas, colocou também a Cabra Leitosa, esta incluída com mais louvor, uma vez que tinha sido o remédio para a cura do menino! O presépio estava lindo! O comentário era de que estava uma belezura!!

Mas...

Sabe leitor, eu tenho tanto medo do mas, sempre que ele aparece, a coisa vai por água abaixo! o Cabra tem que ser bom de rebolado, pois senão o mas derruba qualquer projeto. É uma força contrária que não é facil de conviver ou de até mesmo solucionar! Não há de ver que o problema começou com a cabra!!

Corria a boca pequena a conversa de que aquele animal não era um dos encontrados na manjedoura na época do nascimento de Cristo, segundo uma rezadeira do local, portanto estaria profanando a imagem do presépio! Essa conversa agregou adeptos se espalhou como um rastilho de polvora:

"Depois, a cabra não era um animal abençoado, porque na epoca de Moisés o povo adoravam um bode. E bode ou cabra no presépio era a mesma coisa!"

Na mesma proporçõao que as conversas foram se alastrando e o meu Tio foi se tornando triste e a esposa mais ainda. Haviam construído a capela para ser um lugar para união e reunião, era mais para a benção do que para os têtêtês da comunidade. Meu Tio João ficou muito nervoso pediu a palavra:

- Eu quero agradeçê o pessoal que veio ajudá na construção da capela e que hoje está aqui para participar da inauguração e da bença deste lugar de oração! Quando minha mué, num momento de aflição, por causa da doença do meu menino, se acudiu com o nosso Senhor Bom Jesus dos Aflitos e fez a promessa que se ele apontasse o remédio para a cura do menino, ela contruia uma capela no nosso sítio! E a primeira reza era com um presépio ao vivo! E é por isso que estamos aqui hoje!

Surgiu um burburinho a respeito da cabra! Segundo os comentários, ela era um corpo estranho no presépio.

- Eu sei que a cabra não faz parte dos bichos lá da manjedoura, mas aqui ela faz, porque é para mim e minha mulher um animal abençoado!

Aumentou o burburinho com as idéias contrárias, até algumas beatas já se aprontavam para ir-se embora, se o animal permanecesse no presépio. Então seguiu o meu tio com argumentações em defesa da cabra:

- Quando a minha mulher pediu para o Bom Jesus que apontasse o remédio para a cura do meu filho, no dia seguinte apareceu a cabra aqui, vocês são testemunha disso! Eu saí de casa em casa procurando o dono dela e não achei. Deixei a cabra aqui com nóis! Meu filho começou a tomar o seu leite e sarou! Então o remédio foi o leite da cabra!!! Como vou tirar o animalzinho do presépio se ela foi quem deu o remédio da promessa? Ela é a parte principal do presépio e da promessa!!!

O burburinho aumentou mais ainda. Já havia até gente falando que a vaca teria resolvido, na época, a questão e a cabra estava alí mesmo é de intrusa realmente. E foi neste instante que apareceu aquele Senhor de idade, o Contador de histórias, aquele que trabalhou com o meu tio quando chegou no sítio, lembra? Ele mesmo e então assumiu as argumentações:

- Vocês com esse têtêtê de analfabeto não tem ideia do que estão falando e nem do pecado que estão cometendo. Tanto a cabra como o bode são abençoados e só não estava na manjedoura naquele dia do nascimento de Cristo, porque estavam presos num outro galpão... (e olhou bem firme para os presentes)... Sabem o porquê? Porque eles faziam muito barulho e poderia assustar o pequeno Deus!.... E desde então há essa perseguição ao casal, o bode e a cabra! A perseguição a esse animal foi uma loucura gente, tanto foi que até o seu berro dos coitados traduziram errado, No dia da manjedoura a cabra não berrava como dizem, ela naquela noite chamava por São José, ela queria estar presente e o som de como querem o tratutores não era esse, mas um chamamento ao São José pelo nome, o som do berro era !! Pelo berro já se percebia que ela gostava do santo!!!... Vou mais além, O bode, por exemplo e principalmente, foi o que mais sofreu com essa perseguição, ele foi, antes de tudo, um aliado do homem quando da expiação dos pecados! Ele era usado como ouvinte de pé de ouvido para os problemas e pecados individuais naquela época. Portanto o bode já era de confiança dos fiéis! O bode ganhou a fama de guardador de segredos! Atitude que muita gente aqui neste momento não consegue!!

O pessoal percebeu bem, quem falava era uma autoridade no assunto, ficaram quietos e ouviram as argumentações. Seguia o velho falando:

- E continuo além! Sem contar sobre as injustiças cometida com o pobre animal! Já naquele tempo os hebreus organizavam uma série de rituais que pretendiam purificar a sua nação Para tal contavam com a participação de dois bodes! Faziam um sorteio e um deles era sacrificado e espalhado o seu sangue pelo templo e o outro era largado no deserto com os pecados da humanidade!... O que ele tem feito para nossa humanidade não tem dinheiro que pague. Mas, mesmo feito tanta coisas, existem gente ainda querendo crucificar o bode! Como vocês querem fazer com a cabra agora!

O povo engolia em seco a argumentação do velho sábio. E continuava ele:

- Até já inventaram que quando aparecem animais mutilados na roça é obra do chupa-cabras.! Meu Deus do céu!!! Até onde vai a imaginação contra os caprinos. Porque não chamaria de chupa-vacas ou chupa-porcos e por que é que tem de ser chupa-cabras? Não é uma perseguição? Fiquem sabendo vocês que há cidade no Brasil que considera o bode um animal sagrado, como vocês aqui estão considerando a vaca! A Cabra além de dar sustentação a familia com o leite, ela dá lucro com o seu couro! Dá a carne com o seu corpo!! Então, porque essa resistência contra o pobre animal! É um animal barato e todos vocês têm uma Cabra em casa para dar leite para os seus!... Ela é a vaca dos pobres. Muitos de vocês não teriam dinheiro para comprar uma vaca , mas uma cabra você arruma logo o dinheiro e compra uma, alguns de vocês até ganharam uma como presente de casamento!

E o povo ali escutando.

- Agora pra quem realmente quer saber o quanto a Cabra faz parte de nossas vidas escute: existe vários tipos de Cabras, a Cabra Animal que só faz viver e fazer o bem. Há o Cabra Macho aquele que resolve tudo no braço é um ignorante! Há o Cabra Homem cuja lealdade esta acima do bem e do mal, gosta de estar pronto para ajudar a quem necessita! Como é o caso do Seu João Carcule e sua esposa!! E há o Cabra Bosta que é aquele que não tem escrúpulo, um canalha , um safado! Há também o Cabra-Falador que é aquele que enrola todo mundo! Perceberam a Cabra está até na gente!!!! Até ferramenta o bicho já rendeu! Quem não conhece aqui um Pé de Cabra? ... Ela faz tanta parte na vida da gente, que tem um país chamado Sudão, lá, veja bem, um homem se casou com uma Cabra e viveu feliz para sempre!! Não vai longe, até vocês quando criança já brincaram de Cabra-Cega!!! Até bebida já fizeram com cabra!! Já ouviram falar em Cabreuva? Então, é uma bebida que se faz com o leite da cabra e uva e uma boa dose de cachaça. Esta bebida é muito apreciada pelas mulheres! Temos hoje aqui e vamos provar!!! Até no ônibus se percebe a Cabra!... Quando o motorista recebe o dinheiro da passagem e não repassa ao patrão, este comportamento é chamado de fazer Cabrito! Já virou até melodia, quem não conhece a música A cabra e o bode? Vocês só conhecem este mundo, o mundo não é só este pedaço de chão! Jesus é Rei do mundo e não só de vocês!

Houve uma pausa. Silencio total! Os mais reacionários sairam pé por pé, mas a grande maioria acatou a argumentação e bateram continência ao orador! E este encerrou com estas palavras:


- Estão percebendo que a cabra já faz parte das nossas vidas muito mais do que a gente pensa? O que há apenas, é um grande preconceito contra esse bichinho!

Meu Tio João balançou a cabeça como um sinal de aprovação! Meu avô, que viera para rezar na inauguração, tinha lá suas dúvidas quanto ao conteúdo do discurso, mas a cabra realmente não era empecilho para tal, rezou as orações, abençou a capela e foi embora!

A festa continuou até as tantas da madrugada e a bebida Cabreuva foi bem recebida e tão a vontade que deu comichão de dançar em todo mundo e foi tanto que faltou dama para o baile! Sem saída convocaram até as cabras para bailar!
(Santiago Derin)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Segue o fluxo da vida!!!

Já sonhou? Já imaginou? Já achou o mapa da mina? Então isto é pra você!!!

Depois de um velório agitado e de despedidas hilárias, voltemos ao sério. Criança é um caso sério mesmo!! Só quem cria é quem sabem o quanto de trabalho dá. Olha que o mar não está para peixe como antigamente. Eu escuto os mais velhos falarem que antigamente bastava o pai olhar torto, que a criança se colocava no seu lugar e a situação estaria resolvida. Hoje a história mudou. Esses casais mais novos, se um deles olhar feio para a criança, esta já manda de volta um olhar mais feio ainda ou já fala alguma besteira para responsável pelo olhar. A gente ouve muitos comentário de que criança é um investimento do futuro. Porém com o perdão aos donos da palavra, porque não sabem o que dizem, já ouvi conversa de que algumas crianças não passam de um investimento a fundo perdido. Desabrocham o mau caráter de dentro dela, os pais não percebem alargam os limites e daí para perdição é um passo só. A gente ainda se lembra daqueles investimento no nordeste a fundo perdido, investe mas não cuida!!

O meu tio falava que o primeiro filho dele foi um sufoco, já de nascimento deu trabalho até na gravidez. Já fazia um ano que eram casados. A esposa ainda não tinha nem um sinal de gravidez. O meu tio ficava nervoso, as pessoas já colocavam em dúvida a sua masculinidade! Sabe leitor, a gente cuida da vida da gente, mas não pode conter o diz-que-diz-que das pessoas e chateiam a gente. Tem pessoa que não cuidam da própria vida, mas sempre acha um tempinho para cuidar da vida da gente, é comum esse tipo de comentário: Quando vai casar? Já vem logo o primeiro filho? Está na hora!! Como se as pessoas determinasse o destino da gente. Ele , o meu tio , queixou-se disso na conversa que tive com ele. Que isto é um fato, nós já sabemos! Então vamos mudar o rumo da prosa e vamos cirandar com as crianças!

Fizeram novenas e novenas e o casal pedindo a Deus um filhinho! Só os dois sabiam dessas rezas, não contaram para ninguém. A não ser quando terminou oitava novena que foram obrigado a chamar o meu avô para rezar, com eles, o ultimo dia encerramento dos nove dias de reza. É ... diziam que podia rezar quantas novenas quisessem, porém no último dia, no fechamento das novenas, teriam de chamar um padre ou um representante de Deus para fechar esse ciclo e foi aí então que o meu avô ficou sabendo do desejo do casal. Ficou muito feliz com o desejo e escutou muitas lamentações também por ainda não terem conseguido prenhar.

Eis que num belo dia o sol nascera diferente, parecia sorrir, o meu tio levantou olhou para o céu , havia uma nuvem com um formato de um nenê e a imagem, com o vento, lá no céu ia mudando de formato e se transformando numa criança bem divisada. Chamou a Antonia, sua esposa, e mostrou aquela imagem no céu. Ele disse para ela "Eu acho que você vai ficar prenha, aquilo é um grande sinal!!" Os olhos dela encheu-se de lágrimas, entretanto não passou dali, conhecia bem o meu tio: era muito brincalhão. O tempo passou e não é que ela ficou gravida mesmo.!!! Sabe leitor, a gente segue o fluxo do destino e ele colabora para que as coisas aconteçam tal qual está escrito para vida da gente. Tem gente que fala "Você bate na porta e está fechada e ninguém abre, porém você bate na outra e ela se abrira! " Alguns têm tanta sorte que em todas que batem sempre abrem! Não é assim leitor? Por outro lado tem outras que batem até com a cabeça nas portas, porque os dedos já inchados não aguentam mais bater! Aí abre uma e o desgraçado ainda por azar tem que abraçar o diabo!! Não é verdade leitor? Mas é um fluxo da vida, então a gente segue o fluxo!

Pois é bateram na porta do meu tio e ele abriu, ganhou do seu visitante um trabalho novo e um novo lugar para morar. Longinho o lugar, mas o salário compensava, daria para fazer algumas economias e até quem sabe sonhar com uma casinha própria! Todos os convites têm suas implicações. Quando se dá muito, é porque está sobrando ou ninguém quer! Não é assim? Souberam depois que morariam bem afastado da vilinha da qual moravam. Antes que o desejo atuasse e virasse a cabeça, foram conhecer o lugar.

Era muito bonito, havia uma lagoa próximo da casa, muitas árvores frutífera, um bom pasto para animais, um encantamento para os dois jovens. Voltaram animados com o que viram e com a oferta. Ganhariam o básico para comer, porém ganhariam uma galinha com pintinhos já crescidinhos, quatro porquinhos para iniciar a criação, um pangaré e uma cabra com um cabritinho e ainda plantariam no terreno e não pagariam nada pelo uso. Caiu do céu está proposta. Eles na estrada quando voltavam, já sonhavam com vários porcos gordos sendo vendidos, aquele monte de frango no terreiro pedindo para serem vendidos ou virar ali no sítio uma canja. Imaginaram as crianças correndo atrás das criações e viram alguns dos filhos até apanhando, porque subiu na árvore ou por outra traquinice qualquer!!

Uma semana de espera. Nem foi semana, parecia uma eternidade. Mas o que é acordado sempre é aprazado. Lá estavam eles na carroça e de mudança! No caminho foram misturando sonho com realidade e respirando o ar puro do sertão com uma mistura de esperança e de progresso. Encontraram no caminho com uma raposa ali, com um tatu acolá, Um sabiá na árvore, uma codorna no chão e no batidão que andava na ânsia de desfrutar chegaram num de repente. E num átimo as coisas já estavam na casa, tudo amontoado num canto e outras espalhada pela casa. Não tinham muitas coisas mesmos, naquele tempo não se tinha luxo. E naquele lugar qualquer pé de frango dava um virado bom! As malas eram duas trouxas: uma de roupa e uma outra de utensílios de cozinha. Esta era a mudança deles! As maiores malas estavam nas cabeças dos jovens, eram malas e malas de sonhos e de esperanças!! Bonito isso. Hoje se não tiver casa própria, um micro-ondas, uma máquina de lavar, uma televisão e muitas coisas mais os jovens não querem se casar! Preferem ficar! E ficar morando na casa dos pais e se brincar um pouco, querem até mesadas!

Dormiram aquela noite tão pesado que nem perceberam que durante a noite o telhado estalava, produzia um barulho de chamar a atenção de corajosos, imagine só os medrosos. No outro dia acordaram de manhã e já foram para a lida, os sonhos teriam de ser perseguido, Deus fizera a sua parte, agora faltavam a deles , limparam, organizaram, pintaram, arrumaram e tudo que é "aram" possíveis dos verbos de ação e nem viram passar o tempo. E muito menos o barulho do telhado e já faziam três meses que estavam de moradia nova em nem perceberam as coisas estranhas que aconteciam a noite, o futuro ainda estava longe e o presente era só trabalho.

Um dia apareceu um senhor velho com um porretinho como bengala e pediu guarida por uns dias. O meu tio achou com fundamento as argumentações do andarilho e o recolheu para dentro de casa. O velho dormiu uma semana num quarto pequeno no lado do paiol, trabalhou a troco de comida e ainda ensinou muitas coisas ao casal na lida com a terra e disse em tom de profecia! "Oie, logo ocê vai ser papai e ocê precisa aprendê a contá estória pra ele! Quando criança a gente precisa exercitá a imaginação! Um home só é feliz e criativo se exercitá a imaginação! " Numa das noite à beira do fogo no chão, ele contou uma história e surpreendeu o meu tio pela maneira inovadora de contar, foi colocada em versos!

I
"Do beral da casa puxei
A minha vara de pescá
Era um sonho antigo
Eu falava para um amigo
Pra quando aposentá

II
Peguei o meu velho borná
Enrosquei no meu ombro
Ele eu achei no escombro
Pois a minha mué ia jogá

III
Era relíquia do meu avô
O véio sempre pescava
Sempre seu neto convidava
Só nunca eu disse - Eu vô

IV
Só fui intendê a sua intenção
Era de não dexar que a vida
Pra mim fosse dolorida
E exercitá a imaginação

V
Peguei o meu veio cavalo
Nem liguei pra gozação
Só ia exprementá a emoção
E pé na estrada num só estalo

VI
Meu borná cheia de isca
Minhoca, pão e espiga de mio
E segui sem desviá do trio
Era meu dia de conquista

VII
Já na barranca do rio
Debaixo de um pé de pitomba
Escutava como um bomba
Os pulo dos pexe a fio

VIII
Isquei o meu anzor
Pra pegá pexe pequeno
Era apenas um treno
Só até aparacê o sór

IX
Brilhou no céu o ouro
Raio de luz passaram
Entre as ávores raiaram
Dizia o dia será um estouro

X
Isquei na ponta um pão
Joguei a linha n'água
Brincadeira sem mágoa
A vara curvou num puxão

XI
O pexe era grande escapou
Uma minhoca coloquei
E mais atenção eu prestei
Pegou mas a linha rebentou

XII
Coloquei uma grossa linha
A minha intenção era pegá
Um pexe grande e mostrá
A todos a expriência minha

XIII
Tudo errado de nada adiantô
O pexe era grande e pintado
Parecia um saci pulando fiscado
E a linha deu pra trás afroxõ

XIV
O pexe era o mesmo diabo
Comeu grão de mio e pão
Espiga no anzol era intenção
Pra pegá o intespentiado

XV
Já era noite e naquela escuridão
Joquei com força me deu fadiga
Mas punha a fé na minha espiga
Preparei com cuidado o coração

XVI
O barulho na água foi diferente
Parecia barulho no mato
Me preparei tirei até o sapato
Eis que ele veio no repente

XVII
Senti uma grande fiscada
Fiquei tenso e com arrepio
O pexe podia ser arredio
Na árvore de uma laçada

XVIII
Era grande a força que eu fiz
Puxei e com fé já havia rezado
Ele pareceu fiquei abismado
O grandão escapa o ditado diz

XIX
Eu puxei a linha num estalo
Com muita procupação
João você a credite ou não
Eu tinha pescado um cavalo

XX
Atinei a resposta para situação tal
Com força havia o anzol jogado
A isca caiu no pasto do outro lado
A espiga ficou no meio do capinzal

XXI
O bicho viu e depressa comeu
Eu senti a vara tremer com puxão
Não imaginava naquela escuridão
Esta é a verdade que mentira se deu

XXII
Olha que destino triste
Fui obrigado a aceitá
E até mesmo sem importá
Com dedo em mim em riste

XXIII
Eu sei eu sou um cara brioso
Mas disseram ser maromba
Notícia da pescaria virou bomba
Hoje eu sou um grande mentiroso

XXIV
Amanhã eu vou simbora
Agradeço a atenção dada
Cedinho eu pego a estrada
Vou com Deus e N. Senhora!

XXV
Acredite que seu fio vai nascê
Antes deste inverno chegá
Você vai esforçá de aprende
E tê muita estória pra contá

XXVI
Vai sê criança muito traquina
Desse de derramá café do bule
Será o fio do Seu João Carcule
Para estória o mapa da mina

O velho foi embora e a profecia concretizou-se. Então o rebento veio e veio gordinho saudável, bonito, lindo, maravilhoso, esperto, inteligente e todas as qualidades que só os pais vêem nos seus filhos! Foi aí que o meu tio passou a perceber o trabalho que os filhos dão aos pais.

Os dias foram passando e vieram as noites mal dormidas por causa do pimpolho. Foi então que começaram a perceber as coisas estranhas que aconteciam a noite em volta da casa. Mas isso leitor, fica para outros e outros causos!!

(Santiago Derin)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Destemido!!!

Você tem medo da morte? Você acha que vai viver eternamente? Então leia esta história. Veja bem!!! Se você é medroso nem leia!!!!



Estamos aqui de volta eu e você para continuar a prosa! Já estou sabendo que você já dormiu. Quem me contou foram os nossos dois amigos: O sol e a lua! Gostou dessa? Desculpe-me, mas foi o que eu pude criar. Se não lhe agradou paciencia... deixemos esta lengalenga e vamos aos fatos. De fato mesmo não tenho nada, entretanto as histórias fervilham na cabeça do meu tio e eu vou aqui numa espécie de aparelho psicografando e psicossomando os acontecimentos e no final da trilha a gente faz uma picada e vai fazendo um novo caminho! João Carcule dizia pela sua veia filosófica: "A vida é um brincar de rodas", porém de vez em quando tem-se que parar e fazer uma picada nova, porque cada vez mais aumenta o número de pessoas na roda da vida. E para que o mundo seja mundo, temos que fazer a mutiplicação que Deus mandou. E vamos nós com a globalização ou sem, porque ainda temos ar para respirar e o tempo ruge e urge e nestes termos, segue-se o ritmo!!!


Gosto de conversar com as pessoas sobre a vida e a morte. Por mais que a gente não queira sempre tem alguma morte em volta da gente. Um dia morre uma galinha e se tranforma em canja, no outro morre um boi e vira churrasco, em mais outro morre um porco e vive em torresmo com virado de feijão e laranja em cuia. Mário de Andrade já dizia em "Macunaíma" que não há morte, há apenas trasnformação. Eu meu caro leitor, gostaria de me transformar em estrela a mais distante e a mais bonita. De lá poderia enxergar, junto ao criador, a terra toda. Como ainda não morri e tenho que pagar a minha pena, eu sigo na estrada da imaginação e damos por encerrado este papo filosofista!


Meu avô era capelão e chamava-se Arvelino, para quem não sabe, capelão é uma espécie de meio padre (se é que se pode chamar de meio), uma espécie de representante da igreja em lugar longínquo. Em outras palavras para fechar a questão: substituto de um padre em lugares que não podia ou não queria ir. Meu tio João Carcule contou, certa feita, que numa das visitas de meu avô aos doentes (o velho rezava junto aos doentes para confortá-los na angústia do esperar o chamamento Divino). Eles oravam e cantavam como se fosse uma missa na casa do enfermo. Sabe que a mente tem um poder fantástico? É eu sei que o leitor não ignora, contudo faz parte da prosa, os gramáticos dizem que isto é uma função fática, um religar, um restabelecer do canal da comunicação, eu diria que seria uma inclusão do leitor no papo, uma espécie de agrado ao ouvinte, uma pessoa muito importante na comunicação, razão de qualquer escrito!


Eu já estou até imaginando e você já está imaginando também que eu estou cozinhando o galo em fogo baixo, entretanto não é nao! É que quando se fala em morte, dá assim... um nó na minha garganta. A emoção vem abrupta e pega na gente e as palavras se confundem nas pontas dos dedos e se basbacam todas. Eu só escrevo com dois dedos no teclado e eles não dão conta dessa emoção, e, na hora, eu sinto que funciona como um funil, e a saída são os dedos e são tantas ideias, são tantas palavras querendo sair ao mesmo tempo em enxurradas, que os meus dedos são muito finos e consequemente não aguentam tanta pressão e este fato provoca um colapso na rede da digitação!


Uma vez meu avô foi atender um caso já bem no estado de viagem final. O infeliz morreu duas vezes num só dia! Eu sei que é dificil acreditar, não tenho outro jeito de contar, é meu compromisso de não falsear a verdade, mas é a mais pura verdade, segundo o meu tio. Naquele dia eles foram rezar na casa do moribundo, porém chegaram atrasados. O homem tinha morrido no principiar do nascimento do sol e meu avô chegou lá pelo secar do orvalho. Portanto algumas horas depois. Não deu tempo nem de dar a extrema unção ao coitado. O falecido não tinha bem cinquenta anos. Faltavam-lhe algumas luas para conpletar o meio século. Ja era velhinho, eu digo velhinho por que no sítio as pessoas são muito judiadas pelo sol e o tempo, juntando com a falta de cuidado a pele vai-se num sulco só, assemelhando um telha amiato eternite e tudo vai por água abaixo até chegar a inexistência. Na cidade, o leitor já sabe, há tanto recurso para os homens e mulheres se protegerem tanto do efeito do tempo, que já está mudando a visão da ciência, até estão inventando um outro nome para essa fase, a terceira idade já está sendo transferida para quarta idade tal é a evolução do conhecimento. E é bem verdade que há algumas aberrações nas plásticas em algumas mulheres que só a ilusão de ótica pode entender e explicar o exagero estético.


Bem, mas vamos ao nosso frango frito. Chegaram e deram com o ex-vivo na cama. Fizeram a reza inicial da encomenda do morto e foram cuidar dos finalmentes. Teriam de dar banho no homem e alguém teria de fazê-lo. E agora leitor? Quem fará isso?... Quem?... Quem?... Advinhou!! Foi o meu tio!! Ele mesmo o João Carcule!!


Ele não gostou nada da idéa de meu avô convoca-lo para a lavação. Normalmente era o meu avô quem faria isso, porém o velhinho vinha de um defluxo e para livrar-se do incômodo tomara remédio quente e não podia entrar em água gelada! É... e o defunto seria lavado num corrego perto dalí! Já tinha uma boa oitada de gente ali se prontificando para ajuda-los no que viesse, desde que não fosse lavar o defunto! O meu tio, apesar de não ter assim tanta coragem, assumiu o papel como se fosse um especialista nisso. Como que ele iria fugir do serviço perante um bom número de pessoas e das moçoilas presentes? Ergueu-se num pedestal e com o pescoço carregado de toda a sua garbosidade, foi para o sacrifício!!!


Dois homens pegaram o cadáver no quarto e o trouxeram até a carroça. O burro, que a puxava, olhou para a carga e com um piscar de um olho só assemelhou-se a se benzer como se lembrasse do Guimaraes Rosa em um de seus contos! É leitor, o caso é sério! Nós seres humanos não enxergamos bem a noite, temos medo de vulto no escuro, imagine você os burros que enxergam bem a noite! Já pensou se num belo dia você dá de encontro com uma assombração e ainda mais conhecendo e sabendo quem é essa desgraçada? Deixemos o racicínio de burro do lado e vamos nós nos pacataus-pacataus da vida! Defunto posto e encarroçado.


O dois, meu avô e meu tio, subiram na carroça e seguiram em direção ao riacho! Num átimo chegaram. O caso merecia urgência. Apesar de estar morto, ele merecia uma atenção especial, seria o anfitrião da casa naquela dia e durante toda noite estaria no centro da sala recebendo as pessoas queridas. Era naquele dia as suas 24 horas de importância e sucesso. Era uma cadáver de sucesso!!! É leitor, neste caso não nos contentamos só com os quinze minutos de fama, queremos logo 1 dia inteiro com direito a fofocas, pingão, café e pão com mortadela, piadas e histórias!!


Encostaram a carroça e a alinharam com atraseira em direção a barranca do riozinho. Apearam e para direção da água puxaram o defunto. Escutaram um barulho diferente, parecia que o cadáver havia soltado um peido. Reproduzia, o sem vida, um comportamento de quem não queria tomar banho, aquele barulho demonstrara a ser um aviso desse desejo, puxaram de novo e ouviram outra vez o mesmo barulho. Ficaram intrigados, digo ficaram por força de expressão, meu avô nem deu bola, já estava acostumado, mas meu tio, este sim, já estava quase borrando na bombacha. O cara não saia nem a pau! Foi quando o meu tio resolveu, ainda meio com receio, dar uma axaminada mais criteriosa. Foi então que percebeu que a calça do Seu Sebastião estava enroscado na cabeça de um prego da carroça. Observou e viu que já estavam bem danificadas o pano e a pele do inerte. Aliviado, por saber a resposta sobre o barulho, desenroscou a pele e a calça e o moribundo deslizou-se para fora da carroça. Seguraram-no pelas mãos e pelas pernas e o levaram para beira do riacho. Meu avô tirou a roupa do defunto e meu tio ali olhando. Foi quando o meu avô falou para ele "tire a sua roupa fique só de cueca e entre na água" Para pega-lo já dentro da agua! Pois é leitor, nem deu tempo de efetivar a ação.


Apareceu um rapazinho chamando o meu avo para atender a viuva que estava passando mal. Muito solícito, ele largou o meu tio com o defunto e se foi! Eu entendo que o racicínio do velho era de que a viuva estava viva, por isso merecia a atenção primeira. O falecido já tinha caducado o cheque, então poderia esperar mais um pouco. Mas o diacho é que o defunto estava com o meu tio!!! E, com ele, nós já sabemos que alguma coisa de estranha sempre acontecia e ficava para história. Sabe leitor, tem gente que atrai problema, chama dívida, puxa como ímã qualquer coisa para ficar para a história e ter o que contar depois. O meu tio é um desses e como eu disse aconteceu mesmo!!


Arrastou o morto até rio. Nessa empreitada sujou todo o defunto no barro até entrar totalmente na água. Ele estava de um lado pele do outro barro puro. E meu tio que antes estava com medo agora estava cheio de coragem, porque a água já havia esfriado os seus nervos e o medo e a pressa já eram em demasia, mais que o suficiente para desvenciliar-se logo daquela situação. Lavar defunto era o que ele menos queria, mas já que estava foi-se. Já pensou quando todo mundo soubesse que ele era um lavador de defunto? Pensava ele, nem mulher acharia para casar! Olha que é o inverso do que ele pensava no início do fato na frente das moçoilas. As ideias já haviam passadas pelo filtro da razão e apontavam, agora, para a direção do entendimento das coisas de futuro. O que antes seria se mostrar para moçoilas, agora seria desaparecer para elas. É interessante o olhar da gente! Ele muda a todo instante. O Raul Seixas, o grande poeta brasileiro, que Deus o tenha!!! Já falava que o homem é uma metamorfose ambulante, muita gente ainda não entendeu a palavra do sábio roqueiro. Mudamos na aparência e até na opinião num metamorfosear perene a medida que o tempo vai passando!!


Ora leitor, deixemos o nosso poeta roqueiro e vamos seguir no nosso causo. Lavou o defunto com sabão de cinzas. Se você não sabe o que é sabão de cinzas leitor, agora você vai ficar sem saber e não vai saber, porque temos de andar logo com esta história, senão vamos atrasar o velório. Bem, terminou de lava-lo e pegou a pensar "como tiraria sozinho o defunto do riacho?" A experiência de arrasta-lo, não foi muito ajeitada na descida e na subida seria pior e ainda o sujaria todo e perderia o serviço. Teve uma brilhante ideia (eu tenho até arrepio dessas brilhantes ideias do meu tio) : deixaria o defunto em pé, assim um pouco arcado para trás, pegaria o corpo pela cintura e o colocaria nas suas costas e tranquilamente sairia dali carregando o finado. No plano A deu tudo certinho, porém não contava com o acaso e não tinha o plano B. Deixou-o um pouco mais arcado para trás. Nesse movimento de arcar para trás o defunto abriu o boca e o meu tio não percebeu. Quando ele fez o movimento para joga-lo nas costas, aí é que se deu o torcimento do rabo da porca. Os movimentos foram tão rápidos que num repente estava nas costa do meu tio. Ele só não contava que quando a cabeça fosse abaixando, este movimento fizesse o que fez: a boca do defunto fechou com os dentes na bunda do meu tio e com a arcada dentária deixou uma marca de despedida ou de raiva por tomar banho naquela manhã meia fria.


É mole leitor, um morto morder a bunda de alguem? Pois é! Com ele aconteceu!!! Nesse ínterim as pernas do meu tio amoleceram, os cabelos arrepiaram, as mãos se soltaram e lá se foram os dois de volta para água. Meu tio no afã do medo, as ideias, ainda com o susto e até mesmo sem entender, não tinham assumido os lugares no espaço da lógica. Até que as ideias e ele se recompusessem o defunto foi sendo levado pelas águas bentas do riacho. Quando João Carcule deu em si o defunto já estava indo para céu pelas mãos de São João Batista e nos braços do Rio Jordão. Aí é que a coisa ficou preta mesmo. O que falar para as pessoas sobre o que aconteceu? Acreditariam que o defunto mordeu a bunda dele? A lógica dizia que não!! Então saiu ele atrás do defunto pela barranca do rio. Esqueceu-se de que estava de cueca! Era o defunto pelado descendo rio abaixo e meu tio de cueca, na mesma direção, correndo pela barranca do rio pulando por cima dos matos e cercas.


Hoje é até normal encontrar pessoas de roupas tão curtas e até mesmo homem de cueca e mulher de calcinha na rua, mas nós estamos falando do sítio e de muitas décadas atrás, imagine como era conservador o povo daquela época! Deixemos de trelêlê e vamos na corrida dos nossos personagens. O meu tio correndo por fora e o defunto correndo por dentro. Isto aqui está mais para um Turfe do que para um causo não leitor? E meu tio perdia por um cavalo de vantagem. Sem menos esperar, lá na frente o rio se alargava e em seguida viria uma cachoeira. O meu tio não tinha percebido o que o futuro lhe reservara. Sentiu-se seguro e que dava, os cálculos eram perfeitos, pulou no rio e abraçou, com sucesso, o defunto, mas não pode conter a força da natureza, não havia calculado esse dado e foram arrastados pela correnteza e jogados castata a baixo e a pique.


Caíram os dois de cabeça e foram cada qual para um lado. Havia algumas mulheres lavando roupa naquele momento no rio, só escutaram o barulho na água, mas quando olharam, não viram nada, deixaram o barulho por não barulho. Eis que, o meu tio apontou a cabeça na flor d'água bem perto da roupa que uma senhora estava lavando. A mulher saiu aos gritos e tremendamente assustada, mesmo assim seus olhos viram sair da água um homem totalmente desconhecido dela e do bairro na sua frente e ainda por cima pelado!! Ainda o meu tio sem a consciência do estrito significado da palavra nu. Meu tio nem precebeu a mulher, tal era a preocupação com o defunto, nem percebeu que havia perdido a cueca no ralar do corpo nas pedra da cachoeira. A ideia era fixa no defunto. "Onde estará ele?" Era o seu pensamento! O vento esfriou a sua pele, daí pode então perceber o que estava acontecendo! Estava como veio ao mundo na frente das mulheres!!!


Entrou de novo e rapidamente na água para esconder as suas vergonhas íntimas e outras não muito íntimas. Só então explicou para as senhoras o que estava acontecendo. Disse a elas que os dois estava nadando e que o colega passara mal e ele foi socorrê-lo e deu no que deu! As mulheres então ainda meio ressabiadas, mesmo assim resolveram ajuda-lo naquela contenda e ficaram cada uma num espaço da bacia daquele piscinão natural na esperança de encontrar o cadáver boiando. Foi quando o defunto apontou a cabeça perto de uma senhora que garrou a chorar de céus em terra. Ela o reconhecera. A questão, não era muito antiga assim, de dois anos tinha sido o seu amante.


É leitor, se esta escrita está certa! Então podemos entender que quando a gente ama e o amor é realmente aquele verdadeiro sentimento, a gente não consegue embarcar para eternidade sem despedir-se do amor eterno enquando dure! Tem muito a ver com aquela fala de alguns " depois que eu morrer eu venho puxar a sua perna" Lembra leitor? É com certeza e por isso que aconteceu isso tudo e vou mais longe, chego até acreditar que o meu tio não é azarado, ele, apenas, estava cumprindo a sua sina na cadeia do amor. Foi somente uma questão de despedida amorosa. A partir daí, o fato virou notícia e rodava no ouvido das pessoa que nem zumbido depois de um estouro de rojão: o Sebastião tinha morrido afogado.


No arrazoar da batida, o velório foi um sucesso. A história da amante ficou escondida para a notícia, mas à boca pequena era um zunzunzun lascado. E para uma parte da polulação, a que acreditava no afogamento, o meu tio ficou sendo um heroi pelo ato de tentar salvar o amigo. A outra parte se contentava com a morte natural!!


A noite foi agitada. As figuras do bairro estavam todas presentes. Foi um acontecimento social. Não é sempre que se ouve sobre duas mortes com um cadáver só. E nesse vai-e-vem das coisas, já fizeram um jantar. Cada um deu uma galinha, um outro saco de feijão, um saco arroz para comer no velório que, de tanta gente, parecia um acontecimento tão marcante que já havia quem dissesse "antes e depois de Sebastião". Foi, como dizia Erasmo Carlos, uma festa de arromba.


Bem, a festa já e uma outra história! Por hora, vamos desarrear o burro da carroça, levar o meu avô e meu tio para casa e eu e você, caro leitor, vamos apagar o cachimbo ensacar a viola para olhar o tempo! Depois? Por um belo ponto final no nosso papo e fechamos a questão. Até a outra hora!!! Entro em contato aguarde!


(Santiago Derin)

sábado, 16 de maio de 2009

Não se brinca com quem tem fé

Com pouca fé não se chega a lugar algum! Se você tem fé, este texto é para você ler! Caso contrário nem comece!!! Quem avisa amigo é!!


Era mais ou menos as três da madrugada quando o meu tio chegou montado num burrinho. Fez um barulhão no terreiro e acordou todos que estavam dormindo. Aos poucos o pessoal foi se levantando e se abancando na cozinha. O piso era de chão batido, o fogão era à lenha e ainda havia brasas com algum lume, a chaleira de café ainda se conservara quente. O falatório dentro da casa chamou a atenção das vacas que também já se punham em pé como se advinhassem estar próxima a hora da ordenha. Meu tio já pulou na frente, começou a pegar os apetrechos para tirar o primeiro leite da manhã.

As vacas já o conheciam. Algumas vezes sentiram as suas mãos em suas ubres. Portanto entendiam que ele era da casa. Ele tinha um carinho por elas. Uma até que parecia chamá-lo pelo nome, o berro dela era diferente dos MUUUUS que a gente conhecia. Lembrava bem JOAAAAAAO . Ele dizia isso, e ai de quem o contrariasse, era o chamamento que a vaca criara para ele em agradecimento ao que fizera por ela no passado.

Quando era novilha, foi passar num mataburros e ficou com uma perna presa no vão entre as madeiras e quebrou uma das patas. Na época queriam sacrificá-la, mas ele intercedeu em favor do animal, dizendo, no exato momento, que tinha em mente uma solução para o problema. E não é que teve mesmo! Fez, de madeira, uma pata de peroba, madeira de lei, para a novilha e a partir daí, ela começou a mudar o seu mugido até que o som ficou próximo do seu nome! Segundo ele!!! Porque para os outros, o mugido era normal. Há quem diga que era impressão dele e que até forçava e se esforçava para que as pessoas ouvissem o mesmo som. Até imitava com a boca num biquinho de um bonjour francês para emitir o som produzido pela vaca. Ela ficou conhecida como Peroba!

Ele tinha um carinho especial pelos animais. Acho que quando caiu da mula naquela outra história que lhe contei leitor, deveria ser em função da pressa, ele não pôde abordar a mula da forma costumeira como fazia com os outros animais. Ele era por demais atencioso com os animais. Com as vacas ele conversava como gente grande , contava histórias enquanto as ordenhava, em algumas histórias elas ficavam quietas, como quem estivesse ouvindo coisas sérias, já em outras ficavam inquietas como quem duvidassem da veracidade das baboseiras dele. Numa dessas situações, meu pai ouviu a seguinte história e eu confirmei com o meu tio tempos depois:

Numa ocasião, ele foi no sítio do Brasílio ver um burrinho para comprar e achou o Três Peidos lá. Sabe aquele burrinho em que foi naquele baile que lhe contei? Pois é ele mesmo, é dele que estamos falando!! Então negociou o animal ensiado, com todos os apetrechos da montaria e levou para sua casa. Na verdade ele o comprou para carregar alguns baláios de milho que tinha plantado numa ribanceira. Comentava ele, que o burro por ter os cascos pequenos, e meio fechados, conseguiria se firmar em terreno pendido. Ele possuia um cavalo, mas achou que um burro teria mais segurança e mais rendimento. Assim fez. Colheu o milho e não gostou da trabalheira que deu na colheita, quando findou a labuta, o burro já não tinha mais serventia, vendeu o animal para o meu avô.

Caro leitor, acomode-se na sua cadeira que vou contar a história, a mesma que na época o João Carcule contou a novilha!

O burro que naquele época não era chamado de Três peidos! Veio com outro nome, chamava-se Quatro Paus era uma referência ao jogo de truco, cuja a manilha é a mais valorosa entre as outras. O animal era propriedade de um dos jogadores do bairro, muito famoso pelas cachaça que tomava e pelos tombos que levava. O quadrúpede ficou com esse nome até meu tio compra-lo. Meu tio não jogava truco e até chava que esse jogo tinha parte com o demo, porque quem joga truco esquece da mulher, apega-se ao jogo e não tem hora pra ir-se embora e este comportamento acaba provocando uma briga no casal e até estragando a felicidade conjugal. Com esse pensamento trocou o nome para Três Peidos em função dos três puns que deu quando o meu tio se acomodou sobre o animal pela primeira vez. Na época o burro estava judiado apresentava-se numa magresa de fome mesmo, pois o coitado amanhecia amarrado no palanque sem comer várias horas esperando o jogador, às vezes ficava a noite toda, porque o desgraçado do jogador dormia de bêbado e o coitado amanhecia amarrado até o embriagado acordar. Veja bem, onde ele foi buscar o nome! Só podia ser o meu tio.

Foi a caça com o burrinho! Pegou os apetrechos, que se listados, eram um facão para cortar gravetos e cordonél, hoje conhecido por barbante. Também levou uma corda de uns 5 metros, se por acaso caçasse bastante, amarraria os marrecos dependurados no arreio do burrinho!! Não levou espingarda, porque não gostava de ver morte sem função, principalmente de animais. Já era a favor da natureza muito antes de chegar essa onda de proteção à natureza. Bem, seguiu o caminho na mata. Sua intenção era pegar mais ou menos uns cinco marrecos para fazer um assado na casa de um compadre. Era aniversário do seu afilhado. A condução era o Três Peidos como você meu leitor já sabe!!

Não pretendia ir muito longe, caminhava por ali pelas redondezas para perto de um banhado. Um lugar bem úmido e com algumas lagoas. Muito conhecido pelo nome de Lageado. Passou perto do cemitério. Desmontou-se, fez algumas orações para os falecidos e seguiu no balanço do jegue. Não demorou muito chegou. Desceu, arranjou uma árvore para se instalar, amarrou o burro à soga com a corda e montou o seu ateliê de fazedor de arapuca, a famigerada arma contra os marrecos. Cortou alguns gravetos e foi amarrando os pauzinhos cada um menor que o outro, de forma que ao final ficasse com uma forma próxima de uma pirâmide. Fez cinco e as armou e locais estratégicos. Calculava ele que ficaria o dia inteiro para essa empreitada.

Apenas não contava com a mão divina que providenciou uma nuvem de marreco vindo do sul em busca de ar mais quente e foi ali, naquele lugar, que desceram para descansar, comer e matar a sede. E nem esperavam que iriam encontrar com o meu tio munido para caçá-los ali no local!

Armou a primeira distante do seu paradeiro uns cinquenta metro. Limpou o chão, pegou alguns milhos que levava como chamariz a armou a arapuca e assim fez com as restantes num raio de cinquenta metros e fechou em círculo de maneira que tivesse a visão de todas lá do lugar onde estava acampado. Limpou o caminho para observa-las e esperou. A bando de aves foi se abancando em volta das lagoas, tomavam água e saíam andando em grupo bicando pelo chão a procura de comidas. Não demoraram muito e já acharam um trilha de milho, obviamente colocados pelo meu tio, cuja chegada findava-se na arapuca. E ele só urubusservando! Gostou do termo leitor?

A fome delas eram tanta que entravam dentro da arapuca em plurais, 3, 4, e até em 5. O meu tio ficou abismado, nunca vira aquilo em sua vida. Era armar e já ter o trabalho de retirar as aves, armá-la de novo e correr para outra, pegar as aves e mais outra e outras que quando foi no final da tarde teve que parar de caçar, porque não aquentava mais de cansado de tanto retirar as presa e armar a arapuca. Resolveu encerrar a caçada. Não é para menos. Sabe leitor, é de admirar que um homem com a cabeça de protetor da natureza caçasse tantas marrecas, se precisava só de cinco. A princípio não entendi! Mas Deus é pai e ele sabe o que está fazendo! Certo?

Eu sei leitor, que você deve estar curiosos para saber como ele se virou para armazenar as marrecas depois de tira-las das arapucas. Vou satisfazê-lo nesta explanação. Ao retirar da arapuca, ele ia até a sua árvore, amarrava com palha de milho as pernas da ave e a enroscava no arreio do burro, para quem não sabe arreio é aquele apetrecho que se usa para montar no cavalo. Porém a cada ave que amarrava, sentia que o espaço em volta do arreio não dava. Que fez então? Pegou a corda, passou pelas duas argolas do arreio e passou-a por entre as pernas das aves de forma que elas não pudessem escapar, a não ser que arrastasse o burro. Algumas até tentaram voar, mas perceberam estar presa ou até por canseira pararam docilmente e esperaram o defecho daquela situação. Olha para encurtar a história e para que eu vá dormir, pois já passam da meia noite e eu olha aqui! Só estou escrevendo esta história por respeito a você leitor!

Ele caçou naquele dia exatamente 529 marrecas. Acredite se quiser, eu nem tenho como apresenta-lo a você, porque meu tio já é falecido, mas fique tranquilo, porque o que vem agora dará para você imaginar que só mesmo uma quantidade assim, poderia dar no que deu!

O burrinho três Peidos vinha até arcado com tantas aves dependuradas no arreio junto ao seu corpo. Segundo o meu tio, cada ave devia pesar mais ou menos 1.300 gramas. Descontando as penas o total daria mais menos uns 600 quilos. O meu tio, para não judiar do animal, veio na frente à pé puxando o burrinho. Eu não contei a você, mas para chegar nas lagoas ele tinha que passar uma restiga ( mata fechada, quase mata virgem) do João Baláio. E foi lá que se deu o caso mais interessante da caçada!

Caminhava ele tranquilo pela mata! Eis que na sua frente pareceu uma sussuarana atraída pelos marrecos quando da chegada à lagoa! O medo instalou-se na comitiva! O burro até piscava duro como tivesse vendo a sua alma ir para o céu. Já pensava até numa desculpa para São Pedro, jogaria a culpa do crime contra a natureza nas costas do meu tio. Os marrecos com os olhos esbugalhados naquele momento. A incerteza do final agora tornara-se certeza, nos olhos do felino o aviso: o caso daria em morte. Meu tio então já pediu ajuda a todos os santos que estivessem de plantão naquele momento. Começou a rezar para todos eles. Lá no céu houve até um engarafamento de santos na porta para atendê-lo, até aqueles falecidos do cemitério no qual ele rezara para as almas, já falavam em ressuscitamento para socorrê-lo, havia um alvoroço no campo santo. Mas só se percebeu a Providência Divina, quando já estavam perto de ver a morte, e meu tio já totalmente perdido com os nomes dos santos. Aí que veio o improvável.

Quando ele disse textualmente "Ah! Meu Santos Dumont me ajuda!!" Foi que as aves começaram a bater as asas, uma iniciou a bater desengonçadamente, a outra assustou-se com o barulho e a partir daí começou aumentar o número de asas batendo, que num espaço de segundo, todas estavam batendo as asas e então o incrível aconteceu. As aves estavam levantando o burro no ar!!

Leitor quero deixar claro, que foi o meu tio que contou, eu apenas sou o seu representante nesse momento. Em caso de dúvida da sua veracidade terá que consultá-lo no cemitério. Mas eu acho que não vai precisar disso, porque, segundo ele, 529 marrecos teria condições de carregar durante o vôo 250 quilos! O peso dele mais o do burro juntos não chegavam a 200 quilos. Está mais do que provado de que é possível esta façanha!!

Bem leitor, Deixemos os cálculos de velocidade e peso para os professores de matemática e de física e vamos nós na história. Já está tarde e já estamos cansados e com sono! Não é verdade? O burro foi sendo levantado pelas aves. A Sussuarana quando viu a cena, fez cara de não entender! Parou como se estivesse vendo uma magia. Meu tio então aproveitou esse momento e se atirou no lombo do burro. Não me pergunte como ele conseguiu montar no meio daquelas aves voando. Mas o medo faz coisa que a gente nem acredita! Ele fez e depois viu a onça se afastando dele. Não porque ela estivesse com medo, é que ele estava subindo e alem disso montado no burro como um balão sobe nas festas juninas!

Na época, quando escutei a história eu não acreditei. Fiz até, posteriormente, alguns questionamentos pertinente ao credito! Ele disse com a maior naturalidade: "O medo faz coisas que não existem, existirem ! Acredite nisso!" E eu acreditei! e estou contando a você leitor!

Ele seguiu viagem agora montado em cima do burro e voando no céu pela obra das marrecas. Passado o medo da onça, passou a gostar do passeio e de admirar a paisagem, a beleza dos campos, ele nunca tinha andando de avião, para ele avião era uma coisa de outro mundo, só ouvira falar de avião pela bocas dos outros mais experiente e só na época da guerra . Porém não demorou muito para substituiur esse estado letárgico da alma por um outro. O da preocupação: Como descer e ainda com segurança? Ele via a sua terra natal se distanciando cada vez mais. O burro já nem respirava, o coitado procurava andar no céu, entretanto não encontrava o chão . Desesperado, continuava a sua caminhada persistindo em encontrar o chão sob seus pés. Meu tio também contaminado pelo burro era o corpo inteiro preocupação. Até que meu tio arrumou uma solução. Vislumbrou uma esperança. Resistiu em tomar aquela decisão, porque envolvia a morte das aves e ele não gostava de matança a não ser por necessidade. Eu diria que o termo necessidade caberia apenas para alimentação. Mas naquele momento já era de vida ou morte. Ou para eles ou para elas. Aproveitou a diferença entre o humano e os animais e partiu para ação! Pediu perdão ao Deus do céu pelo avecídio a ser cometido e pôs em prática o seu plano.

Puxou uma marreca, pegou com uma das mãos nos pés e a outra no pescoço da coitada e Screch!!! Destrontou o pescocinho dela. Sentiu então que a ausência de uma ave batendo as asas fez com que descesse um pouco das alturas, aí não teve outra saída. Foi destroncando os pescoços das outras e aos poucos foi baixando cada vez mais, que no resumo da história, quando destroncou a última, já estava em terra firme. E advinha onde ele foi pousar: No centro da cidade de Ribeirão Grande.

Ele fez o caminho de volta sem perceber. No desespero matou mais da metade do lado direito e as aves fizeram uma curva, ele nem percebeu a mudança de rumo. Fez a viagem de volta e caiu bem no centro da sua cidade. Segundo ele, se quisessem perguntar, ainda havia um sobrevivente daquela nação de gente que viu a cena. Nem liguei para esse comentário, eu acreditei naquele de que o medo é responsável por qualquer criação do homem

Para encerrar o assunto, as marreca já estavam morta mesmo, então ele as vendeu ao equivalente hoje a três reais cada uma para o pessoal que viram ele descer do céu. Pois não é que ele fez ainda um bom dinheiro nessa caçada. Comprou uns bezerros depois levou para comer na casa do seu afilhado! Há quem diga até que se não fosse o Santos Dumont ter inventado o avião, ele teria morrido nas garras da sussuarana!!

Leitor, agora me deu sono de verdade e eu tenho que trabalhar de manhanzinha!! Obrigado pela atenção, desculpe o meu cansaço e boa noite! Até o próximo causo!! Abraços!!!

(Santiago Derin)

sábado, 2 de maio de 2009

Quem não dança chispa daqui!!!

Gosta de dançar? Então é com você mesmo que eu estou falando!!!!

Lá longe no sertão de meu Deus os bailes eram famosos, vinha gente de longe de até duas léguas, para você leitor 12 Km não é muito, porque na cidade se vai de carro ou de moto e até de bicicleta, mas lá no sertão o pessoal percorria no pesão. Imagine 12Km para ir, mais uns 5km dançando e mais 12km de volta. Haja força física e vontade de festar e dançar. Ainda não estou nem falando das canjibrina que tomavam a noite inteira!

Certa feita meu tio foi com o meu pai em um desses baile. Arrearam dois burros. Um chamava-se Bonito e o outro Três Peidos. O primeiro era garboso, viril, andava feito cavalo manga larga, pescoço para cima com até certa prepotência, o segundo já mais velho já contava ele com muitos peidos de existência, já contava também, sem saber, com uma participação efetiva na destruição na atmosfera, da nem sonhada e nem falada, na época, a hoje tão famosa camada de ozônio. Olha leitor, cá entre nós, este animal merece um capítulo à parte!!!

E vamos nós nesta empreitada. No sítio do meu pai já começava a história. O meu Tio João, enquanto o meu pai tomava banho, no rio, lá não havia banheiro, foi buscar os dois burros no pasto. Fato corriqueiro se não fosse com o meu tio. Não é que errou o burro, pegou outro e botou o cabresto na cara do animal. Resignado, o animal não esboçou reação. Porém quando ele pulou no pelo do animal, o bicho estranhou e deu dois pulos e lá foi o velho pelo meio do capinzal. Levantou-se, olhou para o burro bem firme, com cara de mau. O outro lado olhou até sem entender e continuou estático. O cavaleiro subiu de novo e lá se foi, depois de mais dois pulos, de barriga no meio do mato. Levantou-se desta vez puto da vida. Xingou o burro até a sua ultima geração, fez ameaças e grudou na crina do animal e pulou em cima, e esperou! A principio o burro nem se mexeu, parecia ter entendido as ameaças, entretanto na hora que o cavaleiro apertou os dois calcanhares na barriga da fera, ela mostrou o seu lado vingativo, sapecou-lhe mais três pulos e no quatro meu tio já tinha batido de novo a lona.

Nessa altura da história, o meu pai já estava depois do banho e viu a cena e ria de fazer gosto. Gritou para ele que o animal não era o burro, era uma mula rescem-adquirida e não tinha sido domada ainda. Como cavalheiro que era rendeu as homenagem ao animal e pegou os dois burros certos e carpiu no casco. Foram para casa.

A minha avó já estava com a comida pronta. Era próximo do entardecer. Na mesa tinha um travessa de madeira com um virado de ovo batido e na outra vasilha uma salada de tomate. O tomate perdia na cor para a pele do meu tio quando o meu pai contou aos demais o ocorrido. Depois de comer tomate da mesa, só ficou, no rosto, o vermelho da vergonha do cavaleiro. Voltou cor normal em questão de segundo, o vermelho do rosto se distribuíra na veia e as coisas balancearam e entraram no prumo. Seguiram viagem.

Questão de duas horas já estavam no arraial. Havia um barracão enfeitado com folha de bananeira recortada em forma de bandeirinha amarelada, cor adquirida no forno de assar biscoito. Ao lado do barracão um boi, atravessado por um eucalipto, cheio de frango estava sendo assado, sobre duas forquilha, em um fogo pesado. Olharam aqui acolá e foram para o salão de baile. Nesse particular, o baile é uma caso a parte. Para que o leitor tenha uma ideia vou discorrer sobre o modo feito. Mas antes, se você quiser tomar um suco, ou um refrigerante dá tempo, eu espero. Afinal a minha história só existe, porque você está aí e você lê! E ela foi escrita para você! Sabia dessa sua importância? Eu já desconfiava. Desculpe da vergonha que passei por fazer pergunta besta! O respeito é bom e tem de ser preservado! Certo!

Vamos ao baile! Meu tio largou o meu pai tocando violão com a rapaziada e foi ao salão. Lotadíssimo!! Pediu licença daqui e dali chegou ao mestre do salão. Sim Mestre do salão! Lá por aquelas bandas era costume ter alguém mais velho indicando com quem você iria dançar. Tinha que avisá-lo. Então este senhor localizava no meio das mulheres uma para dançar com o candidato. Era inúmeros os que queria, então demorava para chegar a sua vez, e você nem imagina quem seria a sua parceira na dança. o sanfoneiro terminava uma música e já completava com outra. Era um batidão de uma hora, em média, cada seleção. Imagine a gente pegar uma dama ruim de dança! Agora imagine se fosse feia, o castigo seria em dobro! No arrazoar da contenda, conforme diminuía a beleza aumentava o castigo!

Enquanto demorava para aparecer a figurfina, ele saiu dar um bisbilhotada em volta da casa. Não demorou muito viu no beiral da casa alguns queijos frescos a secar. Olhou de todos os lados e surripiou um. Colocou por debaixo do braço, por baixo do casacão e saiu com quem nem estivesse ali. Eis que, quando sem esperar, o Mestre o puxou pelo braço e apresentou-lhe a dama. Arrepiou-se todo. Como dançaria? Não podia dispensar a moça (moça! aqui vai como elogio, mas já era avó, percebia-se pelos sulcos de rugas no rosto). Mulher do sítio casa na flor da idade , novinha, novinha de vez, bastou aprendeu a fritar alguns ovos, já está habilitada a vestir um vestido de noiva e aumentar a população deste mundo de meu Deus. Em media , a idade não passa de 13 a 17 anos e lá pelos trinta principia a ser avó.

Meu tio olhou para o céu pediu forças ao santos e foi para o sacrifício. Colocou a mão direita na cintura da moça e a com mão esquerda pegou na mão dela e debulhou a bota no chão! Entretanto era imperativo que não levantasse em demasia o braço, porque despencaria o queijo atolado no sovaco. Conforme o balanço da música tocada, ele foi se obrigando a usar uma tensão maior do braço sobre o tórax. O queijo? Coitado! Estava mais para desodorante em pasta do que elemento de lacticínio, deveria sentir, naquele momento, saudade da ubre da vaca. E cada vez mais o que queijo se amassava, dava demonstração de não aguentar tanto a catinga do sovaco como a aperto da dança. A única opção foi cair. Quem sabe a sorte lhe sorriria?

A cena foi engraçada. E foi bom que isso acontecesse. Imagine leitor quem comeria o queijo depois de tanta esfregação. Só mesmo um bêbado, certo leitor? Nem mesmo um cachorro se atreveria a tal façanha!! O inevitável sucedeu, o queijo foi caindo e ele se torcendo todo para que não acontecesse, parecia um contorcionista num circo de primeira linha. A dama então admirou-se toda foi como tivesse vendo e dançado um novo tipo de dança. Sentia-se uma amadora perante um artista do bailado. Não houve jeito, o queijo caiu e o pessoal sem ver, foram amassando o coitado no meio do salão. O meu tio aproveitou os passos da dança e saiu para o outro lado e nem olhou a neve branca em pedaços pelo chão e nem os participante viram e se viram nem ligaram, só sei que seguiram em frente e na dança.

João Carcule se desvencilhou da obrigação de dançar e procurou o meu pai no meio da cantoria. Lá tomou alguns goles, cantou desafinados em algumas músicas e completou o tanque com os demais goles. Lá pelas tantas, já de bule cheio de canjibrinas, resolveram voltar. foram buscar a condução no estacionamento do pasto. Depois de alguns tombos e de culparem a pipoca da festa pelos tropeços e tombadas, puxaram os burros até a saída. Nesse ínterim, o meu tio, pendendo para cá e para lá, foi fazer xixi, virou as costa para o animal retirou o pingolim para fora e mandou água na guanxuma. O que ele não sabia e que o animal iria aprontar com ele. Dito e feito o burro deu uma cabeçada no seu traseiro e para não caiu de mal jeito, largou a mangueirinha para acudir-se no tombo. O pingolim entrou para dentro da calça e fez uma sopa, foi um estrago sensacional. Incontinência urinaria abrupta foi o diagnóstico dado pelo meu pai assim no repente. Ensopou o coitado.

Avexados, os dois subiram no cavalo, tiraram o chapéu em respeito aos demais e , de despedida, sumiram de volta para casa!!! No caminho vieram conversando, conversando e conversando, quer saber de uma coisa leitor? Chega de prosa!!! Por hoje é só leitor! Você está dispensado e pode até, se quiser, dormir! Amanhã estaremos aqui!!! Um abraço e até outro capítulo.

(Santiago Derin)