Sabe, criar filho não é fácil não! Quem não concordar com isso, acho que só o pôs no mundo! Criar é muito diferente. Criar é se apoquentar pelo e com o rebento! Tem muito a ver com o dinheiro, é como moeda, sabemos que há os seus dois lados. Filho, também, é a mesma coisa, de um lado é uma alegria e do outro uma dor de cabeça que não tem tamanho!! Um dia ouvi uma história do meu tio João Carcule que clareou bem a minha cabeça sobre essa questão. Essa narrativa não trouxe solução, mas deu mais paciência e aceitação!
Era mais ou menos uma hora da tarde, o meu tio tinha acabado de malhar o feijão no terreiro e já estava peneirando para ensaca-los. Um serviço muito duro. Para quem não sabe, vou dar uma pequena noção do que é isso! Depois de ser arrancado com as mãos o pé de feijão seco na roça. Tem de se colocar esparramados os pés de feijão todo o dia num terreiro grande para secar a bainha no sol. Só depois dela começar a estourar de tão seca e liberar o feijão é que está pronto para ser malhado. Malhar é uma surra, com uma vara fina de mais ou menos uns dois metros, no pé do feijão que tem por objetivo liberar o grão de feijão seco da sua casca através dessas batidas.
Mas nós da cidade nem temos de se preocupar se o feijão leva surra ou não. Nós já compramos depois da surra! Para nós a surra fica para o nosso lombo quando vendemos barata a nossa mão de obra, para se ter o dinheiro e compra-lo ou de vez em quando ao depararmos com ele já ensacado nas cestas básicas entregue pela empresas aos seus funcionários. Esta prosa do feijão já ocupou tantas palavras que já está virando quase feijão cozido na panela de pressão. E não é essa a razão da nossa conversa. O leitor já deve até estar pensando em largar este texto para procurar outro para ler. Sabe leitor o feijão está na história, porque ele cria de tudo. Desde gente ruim até os bons e vai desde o não, até aos mais criativos!
O sol batia forte na parede e o beiral da venda proporcionava uma sombra rente a parede. Deixamos o feijão e fomos na venda. Ali, com mais alguns caboclo, descansávamos e a prosear ficamos. Segundo o Belarmino, um boia fria do lugar, quando a sombra tivesse sobre o toco de uma árvore bem na frente do bar seria por volta das três horas. Eu e meu tio tínhamos acabado de chegar, meu tio queria tirar o pó da garganta com uma cachaça. Não havia relógio para conferir, então para nós que tanto faz a hora, o que importa era a conversa, o Belarmino que fique com a sombra das três, o seu toco e o seu cigarro de palha que vamos nós na história!
O meu tio ouvia um senhor que estava reclamando da preguiça do filho, que não quis ir na horta buscar alguns pés de alface para o almoço. A esposa foi a horta e trouxe três pés de alface e fez a salada. Reclamava ele que quando a mulher foi chamar o marido e os outros para comer, viu a mesa com a travessa de salada já totalmente vazia. O menino, de uns doze anos, havia comido tudo! Chamado a atenção do moleque. Nem ouviu direito e se ouvisse daria de ombro. Este senhor foi na horta e pegou outros pés, se quisesse comer uma salada! Meu tio para acalma-lo contou uma história interessante.
Dizia que não lembrava quem havia lhe contado e que iria reconta-la, mesmo sem lembrar-se de alguns pedaços. Ele faria questão de inventar as entrelinhas para alinhavar a história toda, porque valia a pena aproveitar para entender o ser humano!!
Começou ele dizendo que Deus quando fez o mundo, criou o homem e deu todo esse corpo e a mente que nós temos e deu o nome de Ser Humano e mandou esse indivíduo sentar-se numa poltrona e observar as prosas que se seguiriam! Em seguida criou um cachorro e diante do fulano ali sentado disse para o animal que ele estava diante do homem e que este seria a partir daquele momento o seu proprietário. Teria plenos poderes sobre ele e que se quisesse viver teria de ser submisso, aguentar o desprezo, aguentar as surra, ficar amarrado muitas vezes e que até fome passaria e para essa mordomia de vida ganharia 40 anos de existência, sempre vivida em função de atender esse ser humano! O cachorro olhou bem para cara desse indivíduo e disse que não aguentaria suportar essa vida por quarenta anos, preferiria apenas a metade dessa quantia. Deus então concordou com a explicação e lhe deu apenas vinte anos para viver nas condições propostas.
Em seguida criou o burro, apresentou-o ao homem e fez ao animal a mesma proposta feita ao cachorro e adicionou que, alem de tudo, teria de leva-lo nas costas e até puxar uma carroça a custa de lambadas de chicote. O burro olhou para o homem, prestou bem a atenção nele, não achou muito confiável, não gostou do que viu e pediu uma redução de 50 por cento. Deus concordou com os argumentos e ordenou que vivesse todo esse martírio por vinte anos. Em seguida criou o macaco e fez a mesma proposta feita ao cachorro e ainda deveria ser o bobo da corte do homem, deveria fazer graças pulando de galho em galho e até mesmo no chão para divertir seu amo e senhor! O macaco olhou para o homem e concluiu que não faria isso por quarente anos , mas que por vinte ele arriscaria encarar esta, que não seria uma vida, mas uma batalha. Deus concordou e lhe deu essa incumbência por vinte anos.
Em seguida chamou o homem e lhe disse que uma vez que teria toda essa mordomia, ele viveria vinte anos, a mesma quantidade dada aos outros! O homem ficou indignado, com a falta de justiça divina. Ele ouvira toda a conversa e que a todos foi oferecido 40 anos e por que agora ele deveria receber só vinte? Deus não aceitou a argumentação e sustentou que ele permaneceria vivendo os vinte anos mesmo! Então o homem propôs outra alternativa: ele ficaria com as quantidades dispensadas pelo animais e que pegaria os vinte do cachorro, os do burro e os do macaco e que Deus não sairia no prejuízo, porque os 60 anos foram dispensados pelos demais. Estaria, ainda, fazendo justiça dando esta sobrevida ao ser humano e que como tal aproveitaria muito bem uma vez que era dotado de inteligência!! Deus achou justa a proposta e falou que só daria, se ele vivesse esse período exercendo as funções programada para cada um. O homem topou e ficaria assim computada: primeiro viveria a vida do homem, depois a do burro em seguida a do cachorro e por fim a do macaco.
Seu Belarmino estava com uma atenção grande na história, que nem percebeu o cigarro de palha apagado, chupava para sugar a fumaça e não percebia que já era sem fogo. E o meu tio continuou:
- É por isso que até chegar os vinte anos, eles não quer fazer nada, não assume nada, não são responsáve por nada e só quer sossego!!
Todos concordaram com a explicação e saiu conversa de todo os tipos e exemplos de adolescentes com os mais variados comportamentos. E meu tio seguiu o rumo da prosa com a argumentação, dizia ele que depois dos vinte anos , terminada a vida do ser humano começaria a vida do burro. Na prática o indivíduo começa a trabalhar e estudar e até chega a achar que o dia tem menos horas do que deveria, e chega a conclusão que só 24 é pouco. Tem trabalhar, ir a escola, fazer hora extras, atender aos filhos e todo o circunstancial da vida e a noite está num bagaço, porém chega o final de semana ainda tem de participar do social.
Meu tio tomou um gole da cachaça, trazida pelo dono da venda e continuou a prosa. Relatava ele que depois dos quarenta começa a vida do cachorro, a pessoa já não aguenta a fazer do burro e para ajudar na carga e simultaneamente começa a outra vida: a do cachorro. Aí então o indivíduo não tem mais ânimo para sair de casa. A família programa uma saída e ele diz que vai ficar olhando a casa, assemelha a um cachorro. Busca no cuidar do patrimônio um motivo para ficar em casa, há muito roubos em residência! Esta fase é predominada pelo desânimo e fica uma pessoa caseira, quase não sai de casa, só mesmo por decreto governamental.
A última fase vem misturada do macaco com a do cachorro. Quando o filho vai fazer um passeio com a nora e não tem com quem deixar o neto, lá vai o avô e a avó a assumir o compromisso: olhar a criança. Quando o neto percebe a ausência do pai e arma um berreiro, lá vão os avós fazer graça, caretas, brincadeiras sem graça e até rolar no chão, se for o caso, para o choro parar e entreter o menino e por aí vai. E assim encerra o ciclo destas 4 vidas assumidas pelo homem perante o criador. O meu tio João Carcule terminou a história com esta frase:
- O seu filho - Falou para esse senhor - está na fase do homem e você não pode reclamar, você está na fase do burro e do cachorro, não importa se tem latido ou se o burro manca! Tem mais é que trabalhá mesmo!!!!
Dito isso eu e ele viramos a esquina e fomos terminar o trabalho, peneirar e de ensacar o feijão malhado no terreiro. E com este ato, apenas, fomos dar sequência a nossa sina!!!
(Santiago Derin)
Dizia que não lembrava quem havia lhe contado e que iria reconta-la, mesmo sem lembrar-se de alguns pedaços. Ele faria questão de inventar as entrelinhas para alinhavar a história toda, porque valia a pena aproveitar para entender o ser humano!!
Começou ele dizendo que Deus quando fez o mundo, criou o homem e deu todo esse corpo e a mente que nós temos e deu o nome de Ser Humano e mandou esse indivíduo sentar-se numa poltrona e observar as prosas que se seguiriam! Em seguida criou um cachorro e diante do fulano ali sentado disse para o animal que ele estava diante do homem e que este seria a partir daquele momento o seu proprietário. Teria plenos poderes sobre ele e que se quisesse viver teria de ser submisso, aguentar o desprezo, aguentar as surra, ficar amarrado muitas vezes e que até fome passaria e para essa mordomia de vida ganharia 40 anos de existência, sempre vivida em função de atender esse ser humano! O cachorro olhou bem para cara desse indivíduo e disse que não aguentaria suportar essa vida por quarenta anos, preferiria apenas a metade dessa quantia. Deus então concordou com a explicação e lhe deu apenas vinte anos para viver nas condições propostas.
Em seguida criou o burro, apresentou-o ao homem e fez ao animal a mesma proposta feita ao cachorro e adicionou que, alem de tudo, teria de leva-lo nas costas e até puxar uma carroça a custa de lambadas de chicote. O burro olhou para o homem, prestou bem a atenção nele, não achou muito confiável, não gostou do que viu e pediu uma redução de 50 por cento. Deus concordou com os argumentos e ordenou que vivesse todo esse martírio por vinte anos. Em seguida criou o macaco e fez a mesma proposta feita ao cachorro e ainda deveria ser o bobo da corte do homem, deveria fazer graças pulando de galho em galho e até mesmo no chão para divertir seu amo e senhor! O macaco olhou para o homem e concluiu que não faria isso por quarente anos , mas que por vinte ele arriscaria encarar esta, que não seria uma vida, mas uma batalha. Deus concordou e lhe deu essa incumbência por vinte anos.
Em seguida chamou o homem e lhe disse que uma vez que teria toda essa mordomia, ele viveria vinte anos, a mesma quantidade dada aos outros! O homem ficou indignado, com a falta de justiça divina. Ele ouvira toda a conversa e que a todos foi oferecido 40 anos e por que agora ele deveria receber só vinte? Deus não aceitou a argumentação e sustentou que ele permaneceria vivendo os vinte anos mesmo! Então o homem propôs outra alternativa: ele ficaria com as quantidades dispensadas pelo animais e que pegaria os vinte do cachorro, os do burro e os do macaco e que Deus não sairia no prejuízo, porque os 60 anos foram dispensados pelos demais. Estaria, ainda, fazendo justiça dando esta sobrevida ao ser humano e que como tal aproveitaria muito bem uma vez que era dotado de inteligência!! Deus achou justa a proposta e falou que só daria, se ele vivesse esse período exercendo as funções programada para cada um. O homem topou e ficaria assim computada: primeiro viveria a vida do homem, depois a do burro em seguida a do cachorro e por fim a do macaco.
Seu Belarmino estava com uma atenção grande na história, que nem percebeu o cigarro de palha apagado, chupava para sugar a fumaça e não percebia que já era sem fogo. E o meu tio continuou:
- É por isso que até chegar os vinte anos, eles não quer fazer nada, não assume nada, não são responsáve por nada e só quer sossego!!
Todos concordaram com a explicação e saiu conversa de todo os tipos e exemplos de adolescentes com os mais variados comportamentos. E meu tio seguiu o rumo da prosa com a argumentação, dizia ele que depois dos vinte anos , terminada a vida do ser humano começaria a vida do burro. Na prática o indivíduo começa a trabalhar e estudar e até chega a achar que o dia tem menos horas do que deveria, e chega a conclusão que só 24 é pouco. Tem trabalhar, ir a escola, fazer hora extras, atender aos filhos e todo o circunstancial da vida e a noite está num bagaço, porém chega o final de semana ainda tem de participar do social.
Meu tio tomou um gole da cachaça, trazida pelo dono da venda e continuou a prosa. Relatava ele que depois dos quarenta começa a vida do cachorro, a pessoa já não aguenta a fazer do burro e para ajudar na carga e simultaneamente começa a outra vida: a do cachorro. Aí então o indivíduo não tem mais ânimo para sair de casa. A família programa uma saída e ele diz que vai ficar olhando a casa, assemelha a um cachorro. Busca no cuidar do patrimônio um motivo para ficar em casa, há muito roubos em residência! Esta fase é predominada pelo desânimo e fica uma pessoa caseira, quase não sai de casa, só mesmo por decreto governamental.
A última fase vem misturada do macaco com a do cachorro. Quando o filho vai fazer um passeio com a nora e não tem com quem deixar o neto, lá vai o avô e a avó a assumir o compromisso: olhar a criança. Quando o neto percebe a ausência do pai e arma um berreiro, lá vão os avós fazer graça, caretas, brincadeiras sem graça e até rolar no chão, se for o caso, para o choro parar e entreter o menino e por aí vai. E assim encerra o ciclo destas 4 vidas assumidas pelo homem perante o criador. O meu tio João Carcule terminou a história com esta frase:
- O seu filho - Falou para esse senhor - está na fase do homem e você não pode reclamar, você está na fase do burro e do cachorro, não importa se tem latido ou se o burro manca! Tem mais é que trabalhá mesmo!!!!
Dito isso eu e ele viramos a esquina e fomos terminar o trabalho, peneirar e de ensacar o feijão malhado no terreiro. E com este ato, apenas, fomos dar sequência a nossa sina!!!
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